Quem tem medo de democracia?

Por Admin - Em 23/02/2014 às 1:23 AM

                                                               Por Demétrio Andrade – Jornalista

Num passado recente, o Brasil passou 25 anos sob o tacão de uma ditadura militar. Um período nefasto da nossa história: tortura, prisões, mortes, completa falta de liberdade de expressão e uma sequência cretina de desmandos que ajudaram a afundar oPaís, por conta do claro despreparo administrativo, em sucessivas crises econômicas, políticas e sociais. Pelo bem da nossa sociedade, este tempo precisa ser rememorado com urgência. Porque a impressão que se tem, no momento atual, é de que a democracia – tão duramente conquistada – nos trouxe uma grande sensação de desconforto.

Basta prestar atenção aos meios de comunicação. Há uma tendência evidente de tentar generalizar as manifestações como algo a priori negativo. Mais doeu isso: em um ano eleitoral, o tratamento das informações está longe de ser isento, e a divulgação e a interpretação das notícias estão sendo feitas com tintas carregadas, de forma intolerante, autoritária e mal educada.

Detalhe: o fenômeno não ocorre só aqui. Fica difícil mesmo pra mim, jornalista com mais de 20 anos de profissão, compreender as manifestações atuais na Venezuela. As notícias veiculadas por aqui são absolutamente parciais. Ou se defende ou se rejeita o regime venezuelano. Não se procura – com raras exceções – um meio termo, um meio compreensivo que devolva ao jornalismo sua função precípua de informar. O objetivo latente é ganhar o espectador para sua posição. Os países da América Latina, assim como o Brasil, também são pródigos em apresentar um desfile inconseqüente e triste de intervenções militares em seus governos, com cenas lamentáveis e cruéis de desrespeito aos direitos humanos.

Nas redes sociais então, é um festival de impropérios e agressões. Não há uma estratégia de convencimento ou sedução. Como fanáticos de torcidas organizadas em meio a uma decisão de campeonato, há um desejo de se tomar à força mentes e corações de pessoas que discordam da sua posição. E quem não concorda é alvo das mais rasteiras rotulações: burro, despreparado, reacionário etc.

Neste momento, é saudável lembrar que o significado da palavra democracia não é “todos têm de concordar comigo”. Pelo contrário, é a vontade da maioria, após se fazer um esforço de discutir e tentar acordo acerca de posições divergentes. Posso até me incomodar com a opinião que diverge da minha, mas estarei sempre pronto a ouvi-la de forma educada e apresentar minhas ponderações. Tal debate, em tom civilizado, talvez também não chegue a lugar algum, mas no mínimo ajuda a mediar e trabalhar a aceitação das diferentes posições políticas e ideológicas, preferências partidárias, opções sexuais, questionamentos raciais, religiosos e de gênero.

Portanto, é preciso deixar de ver os conflitos de forma negativa. Pelo contrário, eles são essenciais à democracia. Manifestações, opiniões, protestos, greves – legítimos ou não – são comuns aos ambientes democráticos. E isso precisa ser visto como um direito de qualquer cidadão.

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