Adriana Varejão e Glenn Scott Wright

Em 2025, Adriana Varejão percorre três importantes instituições culturais em diferentes países com exposições que se desdobram em propostas distintas, reunindo obras inéditas, retrospectivas e reinterpretações. A primeira parada foi Nova York, em março, com “Don’t forget: we came from the tropics”, na Hispanic Society Museum & Library. Na mostra, pinturas tridimensionais dialogam com a coleção de pratos do acervo, e uma instalação monumental — uma sucuri em fibra de vidro — envolve a escultura equestre de El Cid Campeador, tensionando símbolos históricos e paisagem urbana. A coincidência entre a abertura da mostra e um decreto do governo Trump sobre monumentos públicos amplificou, sem prever, a potência do gesto.

Na sequência, Lisboa recebeu “Entre os Vossos Dentes”, exposição em parceria com Paula Rego no Centro de Arte Moderna Gulbenkian. A curadoria, assinada pela própria Varejão com Victor Gorgulho e Helena de Freitas, estrutura-se em treze núcleos temáticos que percorrem mais de três décadas de produção. Com títulos como “Memórias de açúcar e sal” e “Fui terra, fui ventre, fui vela rasgada”, a mostra explicita o viés político e colonial que marca a trajetória da artista — agora em diálogo com o imaginário da icônica criadora portuguesa.

Fechando a temporada, Varejão inaugura “Histórias Moldadas” na galeria Gagosian, em Atenas. A exposição, dedicada ao trabalho em cerâmica, propõe um cruzamento entre tradições visuais e simbólicas de origens grega, chinesa, turca e baiana. Maragogipinho, no Recôncavo da Bahia, entra como nova referência em sua produção — materializada em três peças que conectam o popular e o ancestral ao rigor conceitual de sua linguagem. “Costumo visitar as cidades antes das mostras para captar o máximo de referências”, conta. Em meio à maratona internacional, a artista já projeta os próximos passos: uma individual na galeria Victoria Miro, em Londres, marcada para 2026.