França em crise

Parlamento derruba governo Bayrou e aumenta pressão sobre Macron

Por Julia Fernandes Fraga - Em 08/09/2025 às 7:14 PM

Françoisbayrou

François Bayrou é quarto primeiro-ministro francês destituído desde 2022. Foto: Reprodução/Redes sociais

O Parlamento da França rejeitou nesta segunda-feira (8) o voto de confiança solicitado pelo primeiro-ministro François Bayrou, levando à queda do segundo governo em apenas nove meses. Dos 577 parlamentares, 364 votaram contra a moção e 194 a favor, incluindo parte da base aliada. Em menos de dois anos, quatro primeiros-ministros passaram pelo cargo.

Bayrou decidiu se submeter ao voto, embora não fosse obrigado, após crescentes críticas ao seu plano orçamentário para 2026, que previa € 44 bilhões (cerca de R$ 279 bilhões) em cortes.

“Vocês podem derrubar o governo, mas não podem apagar a realidade”, disse o premiê aos deputados, alertando para a situação de “emergência vital” causada pelo “superendividamento”, com a dívida pública francesa próxima de 114% do PIB.

Ele deve entregar sua renúncia ao presidente Emmanuel Macron já nessa terça-feira (9). 

Instabilidade e protestos

Desde a antecipação das eleições legislativas de 2024, a França enfrenta forte instabilidade política, sem maiorias parlamentares estáveis. O anúncio de medidas de austeridade, como a eliminação de dois feriados, provocou manifestações em várias cidades. Um novo dia de protestos está marcado para quarta-feira (10), sob o lema “Vamos bloquear tudo”, e uma greve geral foi convocada para 18 de setembro. 

Na noite desta segunda-feira, François Bayrou reuniu ministros para um “momento descontraído”. Paralelamente, grupos celebraram sua queda diante de prefeituras em diferentes regiões do país.

Pressão sobre Macron

A nova crise aumenta a pressão sobre Macron, que terá de escolher entre convocar novas eleições legislativas ou indicar um novo primeiro-ministro. “Estamos prontos, que venha nos buscar”, disse o deputado socialista Boris Vallaud, destacando que cabe à esquerda, vencedora das últimas legislativas, formar o governo.

Já a ultradireitista Marine Le Pen afirmou que Macron tem “obrigação moral” de convocar eleições antecipadas, embora ela esteja impedida de se candidatar por decisão judicial, com recurso a ser julgado entre no início do ano que vem.

O ex-premiê francês Gabriel Attal sugeriu um “acordo de interesse geral” entre forças políticas para superar o impasse até 2027. 

Mercados atentos

O cenário político delicado coincide com a expectativa do anúncio da agência Fitch, que divulgará na sexta-feira (12) sua nova avaliação da dívida francesa. Em março, a entidade já havia alertado sobre possível rebaixamento caso Paris não apresentasse um “plano confiável” para reduzir o endividamento.

Além da crise econômica e política, Bayrou enfrentava polêmicas ligadas a um escândalo de abusos em um colégio católico nos anos 1990, quando era ministro da Educação, acusado por uma comissão parlamentar de “falta de atuação” para interromper as agressões.

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