SUBSTITUIÇÃO DE IMPOSTOS
Tributação pode retirar R$ 2,2 trilhões dos cofres das empresas no ano que vem
Por Marcelo Cabral - Em 23/12/2025 às 4:40 PM
A partir de janeiro de 2026, o Brasil passará a operar sob uma nova lógica de tributação sobre o consumo. A Reforma Tributária prevê a substituição de cinco tributos – PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS – por dois novos impostos: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). A mudança representa uma das mais profundas reestruturações do sistema fiscal brasileiro nas últimas décadas e deve movimentar cerca de R$ 2,2 trilhões por ano em arrecadação, com impactos diretos sobre empresas de todos os portes e setores.

Mary Elbe Queiroz alerta para os cuidados que as empresas, de todos os portes e setores, devem ter
O novo modelo altera substancialmente a forma de apuração dos tributos, a lógica de créditos e o local da incidência, que passará a ser no destino do consumo. Na prática, isso significa reflexos imediatos no fluxo de caixa, na formação de preços e na organização operacional das companhias. Com a adoção de uma base digital nacional, o País ingressa em um seleto grupo de economias capazes de mensurar a atividade econômica quase em tempo real.
Entre as promessas do novo sistema está a redução do contencioso tributário, que hoje supera R$ 5,6 trilhões, o equivalente a quase 75% do Produto Interno Bruto (PIB). Em um cenário de transição fiscal e busca por previsibilidade, o último trimestre de 2025 se consolida como um ponto de inflexão para o setor produtivo. O planejamento tributário deixa de ser uma escolha estratégica e passa a ser uma questão de sobrevivência e eficiência.
Para a advogada tributarista Mary Elbe Queiroz, presidente do Centro Nacional para a Prevenção e Resolução de Conflitos Tributários (Cenapret), o momento exige uma revisão das estratégias empresariais. Mais do que compreender as novas regras, será necessário repensar estruturas fiscais, tecnológicas e operacionais de forma integrada, inclusive sob a ótica da localização das operações, já que a tributação passará a ocorrer no destino.
“A reforma tributária é a maior reestruturação das últimas décadas e muda a lógica de apuração, local da tributação e de crédito. Empresas que trabalham com cadeias longas, prazos de pagamentos e recebimento e regimes especiais ou benefícios regionais precisarão avaliar como o novo sistema impactará seu fluxo de caixa e a precificação de seus produtos, pois os tributos serão calculados ‘por fora’ do preço cobrado pelo fornecedor. A CBS e o IBS criam uma base ampla e transparente, mas também eliminam brechas e distorções que vinham sendo usadas para reduzir a carga. Quem não se planejar agora corre o risco de pagar mais do que deve e de enfrentar insegurança jurídica na transição”, afirma.
Maior integração entre setores
Segundo a especialista, os efeitos da reforma não se restringem à área fiscal. O novo modelo exigirá uma integração ainda maior entre os setores contábil, financeiro, jurídico e de tecnologia da informação. “O momento de agir é antes da mudança começar a valer. Depois, as margens de ajuste serão muito menores”, alerta. Outro ponto central da reforma é a ampliação da rastreabilidade das operações. A nova estrutura permitirá o cruzamento automatizado de informações fiscais em tempo real, fortalecendo o combate à sonegação e ampliando a transparência na arrecadação.
“O contribuinte ganha clareza, mas também visibilidade. Notas, créditos e débitos estarão totalmente integrados, e operações sem lastro contábil ou com erros de classificação serão rapidamente identificadas. O planejamento tributário precisa ser visto como um processo contínuo, e não como uma ação pontual de fim de exercício”, reforça Mary Elbe.
Empresas com múltiplas filiais, operações interestaduais ou regimes especiais de apuração devem redobrar a atenção. Com a eliminação das diferenças regionais e a tendência de centralização da cobrança, a reforma impõe uma revisão criteriosa de toda a estrutura operacional. Em um novo ambiente de alta transparência e menor margem para improviso, antecipar decisões será decisivo para atravessar a transição com segurança jurídica e competitividade.
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