Investigação federal

STF inicia série de depoimentos com foco no papel dos militares na tentativa de golpe

Por Anchieta Dantas Jr. - Em 19/05/2025 às 5:00 AM

Stf Divulgação

Em uma maratona de oitivas que deve se estender até junho, 81 testemunhas serão ouvidas no Supremo Foto: Divulgação/STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta segunda-feira (19) uma fase decisiva no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado articulada por Jair Bolsonaro e aliados no fim de seu governo.

Em uma maratona de oitivas que deve se estender até junho, 81 testemunhas serão ouvidas — entre elas, nomes de peso da política e das Forças Armadas, como Hamilton Mourão, Paulo Guedes, Tarcísio de Freitas e os ex-comandantes das três forças militares.

Os depoimentos serão colhidos por um juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, com participação de procuradores e advogados de defesa. A fase é considerada sensível: trata-se da primeira vez em que integrantes do alto escalão do governo anterior e da cúpula militar falarão formalmente no processo que aponta para uma articulação golpista antes e depois das eleições de 2022.

Militares no centro da linha de investigação

Os primeiros a depor foram indicados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e incluem os generais Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Baptista Júnior (Aeronáutica), que já relataram à Polícia Federal terem recebido de Bolsonaro uma minuta de decreto para anular o resultado das urnas. O episódio é tratado como um dos pontos-chave para comprovar a intenção de ruptura institucional.

Outras figuras que deverão ser ouvidas ao longo da agenda incluem o governador do DF, Ibaneis Rocha, e Éder Balbino, conhecido como “gênio de Uberlândia”, que prestou serviços ao Instituto Voto Legal — entidade contratada pelo PL para auditar as eleições. Ibaneis chegou a ser listado pela acusação, mas teve sua oitiva retirada pela própria PGR, podendo ainda ser convocado pela defesa de Anderson Torres.

Depoimentos indicados por Cid e estratégia da defesa

Na sequência, o STF ouvirá testemunhas indicadas por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, hoje delator. Cid apontou apenas nomes ligados ao Exército, como o general Júlio Cesar de Arruda, demitido após se recusar a desfazer uma nomeação de Cid já sob pressão institucional.

A defesa dos réus, especialmente a de Anderson Torres, é responsável pela maioria das indicações. Torres apresentou 38 nomesentre eles o ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, cuja oitiva foi rejeitada. Já o ex-comandante Freire Gomes será ouvido a pedido de cinco réus diferentes, incluindo Bolsonaro. Mourão, por sua vez, foi solicitado por quatro.

O entorno de Bolsonaro também foca em minar a credibilidade do sistema eletrônico de votação, indicando testemunhas como Giuseppe Janino, ex-secretário do TSE, e o coronel Wagner Oliveira da Silva, que participou da comissão de fiscalização do Ministério da Defesa.

Na última semana, os advogados de Bolsonaro tentaram adiar as audiências alegando falta de tempo para analisar documentos novos no processo. Alexandre de Moraes rejeitou o pedido. Encerrada a fase de testemunhas, será a vez dos próprios réus prestarem depoimento ao Supremo.

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