TICIANA ROLIM

Nova economia reúne lucro com soluções para os impactos sociais e ambientais

Por Marcelo - Em 06/03/2023 às 10:56 AM

A empreendedora social Ticiana Rolim Queiroz – fundadora e presidente da organização Somos Um e vice-presidente do Conselho de Administração da C. Rolim Engenharia -, tem focado suas energias no sentido de criar uma nova economia, equilibrada e mais justa para todos, não apenas para alguns. Atualmente, há na Brasil, Bolsa, Balcão (B3) uma carteira de empresas que atuam de forma mais correta, implementando as práticas ambientais, sociais e de governança (ESG da sigla em inglês) no seu dia a dia e, inclusive, estão tendo rendimentos superiores àquelas que não adotam tais práticas.

Ticiana Rolim diz que a nova economia deve medir impactos gerados                 Foto: Portal IN

Ela acredita que o capitalismo tradicional de lucro acima de tudo, que trouxe a humanidade até este momento, está em ruínas. “Estamos fazendo uma transição para uma economia que entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, as pessoas devem escolher ficar com os dois. O capitalismo foi muito eficiente em gerar riquezas, mas não é eficiente em distribuí-las. A gente precisa arrumar um formato no qual possamos gerar riquezas de uma maneira mais distribuída”, destaca.

Uma economia que olhe para o impacto que ela está gerando a partir do seu core business. “Por exemplo, as Lojas Americanas têm projetos sociais paralelos e os seus fundadores são filantropos. Mas não adianta ser filantropo e pedir um prazo de 180 dias para pagar seus fornecedores, dentre os quais pequenos empreendedores, que não conseguem se desenvolver por causa disso e, às vezes, chegam a quebrar”, afirma.

Outro exemplo citado por Ticiana são as vinícolas do Rio Grande do Sul, que utilizavam trabalho análogo à escavidão, o que na sua opinião representa uma verdadeira economia em ruínas. “Isso não tem nenhuma sustentabilidade, pois as pessoas não aceitam mais esse tipo de coisa e o nosso planeta não vai suportar um aumento das desigualdades. Então, vou usar uma frase que digo desde 2018: Se você não se preocupar com o impacto ambiental e social que a sua empresa está gerando por consciência, será por sobrevivência”.

A empreendedora social ressalta que os consumidores não vão mais comprar apenas o que você faz, mas sim como e porque você faz. Então essas empresas não terão mais como vender para diversos estabelecimentos comerciais. “Inclusive já vi pessoas protestando com cartazes em frente às gôndolas de supermercados onde se lia: ‘suco com gosto de escravidão’. A nova economia não tem volta. Os fundos de investimentos também estão analisando muito a questão de qual empresa pretendem aplicar seus recursos”, diz.

Lembra que o BNP Paribas, recentemente, sofreu uma série de denúncias de que estava financiando empresas que estão promovendo o desmatamento na Floresta Amazônica. Muitos clientes afirmaram que não vão mais aplicar seus recursos em um banco que financia empresas que geram impactos negativos no mundo.

Nova economia

Ticiana explica que a nova economia não é apenas o ESG, pois ele não interfere diretamente no core business. Por exemplo, uma empresa de vinhos e sucos dessas pode ter excelentes projetos sociais, mas no seu core business têm práticas condenáveis, como mão de obra escrava. Outras podem estar trabalhando na produção de cigarros ou armas. E ressalta a declaração do professor Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank e chairman da Yunus Social Business, de que chegou o momento de criar uma nova civilização, mas com uma mudança em seus parâmetros, pois a pobreza não pertence aos seres humanos, ela lhes é imposta pelo modo como o sistema funciona.

Somos Um também busca a lucratividade de empresas, mas não a qualquer custo

“Mas vale destacar que o ESG ainda não é o fim da linha para a nova economia. Existe um passo à frente que as empresas estão dando, pois o fim da linha é que elas olhem para o seu core business e que todos os stakeholders, os envolvidos no negócio sejam beneficiados. E medir os impactos ambiental e social a partir do seu core business. É elas colocarem os indicadores de impacto, na mesma régua dos seus indicadores financeiros. Ou seja, se eu tenho um projeto que dá muito lucro, mas se olho no indicador de impacto está gerando prejuízos para as pessoas, poluindo o meio ambiente, devo decidir não seguir adiante, pois ele está gerando mais impactos negativos. As empresas têm de lucrar, mas não a qualquer custo”, adverte a fundadora da Somos Um.

E finaliza afirmando que a nova economia é o novo setor econômico – o 2,5 -, que reúne os objetivos do terceiro setor com os meios do segundo setor. “Ou seja, é privada, dá lucro, tem os mesmos controles de qualquer negócio, mas existe para resolver um problema social ou ambiental. Eu quero resolver um problema social, mas quero obter lucro também. Hoje as pessoas vão aos bancos e perguntam apenas a taxa de retorno e liquidez. Mas não temos mais tempo, e precisamos saber para onde o dinheiro está indo ou financiando. Se aplico dinheiro no banco e ele ajuda a financiar uma empresa que pode estar utilizando mão de obra escrava, estou colaborando para isso. A indústria da moda, por exemplo, é muito exploratória no Brasil”, completa Ticiana Rolim.

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