Especialistas do setor afirmam que a lógica desse tipo de investimento se aproxima da usada em commodities como ouro

Um segmento peculiar vem ganhando espaço no universo dos investimentos: bolsas de luxo tratadas como ativos financeiros. A startup norte-americana Luxus, especializada em tecnologia aplicada ao mercado de alto padrão, lançou dois fundos dedicados exclusivamente aos modelos Birkin e Kelly, da Hermès, peças que há décadas simbolizam exclusividade e valorização contínua.

Criada pela ex-executiva da Blackstone Dana Auslander, a empresa aposta na junção entre moda e finanças para atrair investidores interessados em diversificação. A estratégia vem dando resultado. O primeiro fundo, lançado com apoio da Christie’s e capital inicial de US$ 1 milhão, registrou retorno líquido de 34% e tempo médio de revenda de pouco mais de 40 dias. O bom desempenho levou à abertura de uma segunda carteira, que captou US$ 2 milhões e opera de forma restrita, atraindo cotistas principalmente por indicação.

Especialistas do setor afirmam que a lógica desse tipo de investimento se aproxima da usada em commodities como ouro: alta demanda, oferta limitada e forte presença no mercado secundário. Segundo a Christie’s, os preços médios de Birkin e Kelly cresceram cerca de 5% ao ano na última década, mesmo com a correção observada após a pandemia.

A exclusividade é um dos pilares que sustentam essa dinâmica. Como a compra direta em lojas Hermès é restrita a clientes convidados, grande parte das transações ocorre na revenda, espaço em que a Luxus atua selecionando peças em estado impecável, tanto modelos clássicos quanto itens raros leiloados por grandes casas internacionais.

O crescimento do mercado, porém, veio acompanhado de um avanço nas falsificações de alta qualidade, o que tornou a autenticação um componente central da operação. A empresa mantém especialistas dedicados a verificar detalhes de materiais, acabamentos e padrões de fabricação para evitar fraudes, que se multiplicaram com o comércio online.

Além de operar os fundos, a Luxus desenvolve um índice próprio de preços da Hermès para monitorar tendências e orientar decisões de compra e venda. O objetivo é transformar dados dispersos em informação estruturada, fortalecendo um nicho que atrai cada vez mais colecionadores e investidores — muitos deles interessados não necessariamente na posse da bolsa, mas no potencial de retorno.

Embora o consumo desses acessórios seja majoritariamente feminino, Auslander afirma que os investidores dos fundos são, em sua maioria, homens. Segundo ela, a combinação de alta rotatividade no mercado secundário, forte desejo por peças icônicas e estabilidade relativa na valorização explica o apetite crescente pelo produto.

Com a proposta de unir luxo, tecnologia e estratégia financeira, a Luxus aposta que esse tipo de investimento alternativo deve ganhar ainda mais força entre gerações mais jovens, que veem no mercado de moda premium não apenas objetos de desejo, mas uma nova classe de ativos.