A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que tem no seu comando o presidente Neuri Freitas, avança em uma iniciativa inédita no Brasil: a construção e implementação do Plano de Gestão Proativa de Secas. O projeto representa uma inflexão estratégica na política de segurança hídrica estadual, ao substituir a lógica reativa – historicamente adotada em períodos de escassez – por um modelo preventivo, orientado por marcos objetivos e ações antecipatórias.

Neuri Freitas está à frente das decisões implementadas pela Cagece em todos os municípios onde atua                         Foto: Rayane Mainara/Cagece

A proposta nasce da necessidade de responder de forma mais eficiente aos ciclos recorrentes de seca que afetam o semiárido nordestino. O plano estabelece um conjunto de medidas operacionais e institucionais a serem acionadas conforme indicadores claros sobre a condição dos mananciais e do sistema de abastecimento. A intenção é mitigar impactos antes que a crise se instale, ampliando a segurança do fornecimento de água à população e reduzindo efeitos econômicos, sociais e ambientais.

Embora a Cagece já desempenhe papel central na gestão dos impactos da estiagem, a ausência histórica de gatilhos bem definidos, para orientar decisões e intervenções em tempo oportuno, sempre foi um desafio. O novo plano busca justamente preencher essa lacuna, oferecendo previsibilidade e capacidade de resposta escalonada diante de diferentes cenários de risco hídrico.

Da reação à antecipação

Desenvolvido em articulação com a Universidade Federal do Ceará (UFC), no âmbito do Programa Cientista Chefe de Recursos Hídricos, o Plano de Gestão Proativa de Secas é considerado o primeiro do Brasil voltado especificamente à gestão de sistemas de abastecimento de água em contextos de seca e escassez hídrica, com foco em gestão de riscos e respostas graduais.

A iniciativa integra um conjunto mais amplo de esforços do Estado, que inclui a proposta de uma Política de Gestão Proativa de Secas para os Recursos Hídricos do Ceará, além da elaboração de Planos de Bacias Hidrográficas, de Hidrossistemas e de Cidades – este último coordenado pela própria Cagece, com ênfase nos sistemas urbanos de abastecimento de água.

A experiência internacional reforça o caráter inovador do projeto. “No mundo, poucos países como  Espanha e Estados Unidos possuem Planos com características proativas operacionais urbanos. No Brasil, o Ceará é o primeiro a desenvolver um plano proativo de gestão de secas para sistemas de abastecimento de água”, afirma Cailiny Medeiros, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica da Cagece.

Ao estruturar um modelo baseado em antecipação, monitoramento contínuo e tomada de decisão orientada por evidências, o Ceará dá um passo relevante rumo a uma nova cultura de gestão hídrica. Mais do que responder à escassez, a proposta sinaliza a construção de resiliência – um ativo estratégico em um cenário de mudanças climáticas e crescente pressão sobre os recursos naturais.