GRANDES MARCAS
China mais fraca e mudança no perfil dos consumidores impacta mercado de luxo
Por Redação - Em 12/11/2024 às 12:01 AM

A Gucci, que também enfrentou dificuldades semelhantes no início do ano, viu seus números cair por conta do “efeito China”, o que resultou em perdas nas vendas e uma queda no valor das suas ações FOTO: Adobestock
O setor de luxo, que experimentou uma ascensão robusta após a pandemia, agora enfrenta desafios significativos devido a uma queda na demanda por seus produtos. Os sinais de enfraquecimento da economia, particularmente na China, e uma mudança no comportamento dos consumidores mais jovens, têm colocado pressão sobre as principais marcas desse segmento, cujos resultados começam a refletir essas dificuldades.
De acordo com João Crapina, analista CNPI da Suno Research, o mercado de alto padrão está sentindo os efeitos de uma combinação de fatores. “A recente queda na demanda por produtos de luxo pode, sim, impactar os próximos resultados das empresas do setor, e isso já está acontecendo”, afirmou Crapina. Ele destaca que a desaceleração já havia se mostrado no início de 2024, mas os sinais ficaram mais evidentes após a divulgação dos resultados financeiros do terceiro trimestre.
Impacto da crise na China
A economia chinesa, uma das maiores responsáveis pela demanda global por itens de luxo, tem apresentado sinais de desaceleração desde o auge do boom pós-pandemia. A crise imobiliária no país também tem gerado incertezas, o que tem afetado diretamente o consumo. A Louis Vuitton, parte do conglomerado LVMH, registrou seu primeiro recuo nas vendas desde o início da pandemia, com uma queda de 3% no faturamento do terceiro trimestre. Embora a empresa tenha visto crescimento nas vendas nos Estados Unidos e na Europa, a Ásia, que é um dos seus principais mercados, apresentou uma queda de 16%. Essa diferença geográfica foi suficiente para impactar os resultados da gigante francesa, como explica Crapina: “Mesmo com bom desempenho nas Américas e Europa, a baixa na Ásia não permitiu um crescimento geral.”
A Gucci, que também enfrentou dificuldades semelhantes no início do ano, viu seus números cair por conta do “efeito China”, o que resultou em perdas nas vendas e uma queda no valor das suas ações.
Mudanças no perfil do consumidor
Outro fator que vem pressionando o mercado de luxo é a transformação no perfil dos consumidores, especialmente das gerações Millenial e Z, que passaram a redefinir o que significa “luxo”. De acordo com Mariana Cerone, professora de Estratégias do Varejo Omnichannel da ESPM, esses consumidores têm se mostrado mais conscientes e exigentes. “Eles se interessam por marcas que tenham propósitos e que compartilhem causas relacionadas à sustentabilidade”, explicou Cerone. Essa mudança de valores tem feito com que os jovens consumidores adiem a compra de itens de luxo em um momento de crise econômica e desemprego crescente.
Uma pesquisa da Bain & Company já apontava uma desaceleração no setor, em parte explicada por esse “sentimento de vergonha do luxo”, em que os consumidores mais jovens, ao mesmo tempo que desejam consumir, se sentem constrangidos a gastar em bens de luxo durante um período de incertezas econômicas.
Transição para o mundo digital
Além das mudanças no perfil do consumidor, o setor de luxo também enfrenta desafios relacionados à sua adaptação ao ambiente digital. Muitas marcas, que antes dependiam fortemente das lojas físicas para suas vendas, tiveram que se reinventar após a pandemia e buscar alternativas no comércio eletrônico. “Embora as marcas de luxo tenham feito um bom trabalho em adaptar suas estratégias de vendas para o online, elas ainda estão em processo de adaptação”, disse Cerone. Para essas empresas, a transição completa para o digital, sem perder a exclusividade e o charme das lojas físicas, continua sendo um desafio.
Efeitos no patrimônio dos bilionários
O impacto da desaceleração econômica no setor de luxo não se limita às marcas, mas também reflete nas fortunas de seus bilionários proprietários. Bernard Arnault, CEO do conglomerado LVMH, que engloba marcas como Louis Vuitton, Dior, Sephora e Moët & Chandon, viu seu patrimônio diminuir consideravelmente. De acordo com o índice de bilionários da Bloomberg, Arnault perdeu US$ 5 bilhões (equivalente a R$ 29,3 bilhões) no trimestre encerrado em outubro de 2024, refletindo a queda nas ações de suas empresas devido à desaceleração da demanda.
Esse fenômeno é um reflexo claro de um mercado de luxo em transformação. Embora o setor de alto padrão continue sendo um dos mais resilientes em tempos de crise, a combinação de fatores como a desaceleração da economia chinesa, as mudanças no comportamento do consumidor e a adaptação ao mundo digital tem imposto desafios inéditos às marcas de luxo, forçando-as a repensar suas estratégias para o futuro.
O setor de luxo, que desfrutou de um boom pós-pandemia, agora se encontra em um cenário de desaceleração. A combinação de fatores, como a crise econômica na China, mudanças no perfil do consumidor e a transição para o digital, está afetando tanto os resultados financeiros das principais marcas quanto o patrimônio de seus proprietários. O impacto dessa desaceleração será um tema central para o mercado nos próximos meses, e as empresas do setor precisarão se adaptar rapidamente para manter sua relevância e prosperidade em um cenário cada vez mais desafiador.
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