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Com baixa demanda e juros altos, montadoras podem deixar o Brasil, diz Anfavea

Por Redação - Em 20/04/2023 às 12:14 AM

Indústria Automotiva, Fábrica Veículos, Fábrica Carros, Fábrica Automóveis

A produção de veículos cresceu 8% no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período de 2022, mas a Anfavea diz que a base de comparação é uma das menores do setor

A produção de veículos no Brasil cresceu 37% em março deste ano, ante fevereiro, e 20% na comparação com igual mês de 2022. No primeiro trimestre de 2023, o avanço foi de 8% em relação a igual período do ano passado. Olhados isoladamente, os números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) parecem muito positivos, mas o setor está preocupado, uma vez que os crescimentos ocorrem sobre a base de comparação (primeiro trimestre de 2022) do pior momento da indústria automobilística desde 2004.

Assim, os avanços registrados em 2023 colocam as montadoras de veículos em um nível apenas ligeiramente superior ao que estiveram em uma das suas piores fases. A situação preocupa o setor nacional, que, de acordo com o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, corre o risco de perder fábricas importantes. Em sua análise de mercado, Leite acredita que o cenário desconfortável vivido atualmente pelo setor pode levar indústrias, a maioria de porte global, a deixar o País, seguindo os passos da Ford, que encerrou as atividades no Brasil em 2021.

“Os resultados de março devem ser comemorados. No trimestre, contudo, o crescimento foi de apenas 8%. E o problema é a base de comparação, que é muito ruim. O primeiro trimestre do ano passado foi o pior da indústria desde 2004, quando o setor sofreu com a falta de insumos como o semicondutores. Agora, o limitador é a falta de demanda”, afirmou o presidente da Anfavea em entrevista ao site Metrópoles. Ele acrescentou que, apenas no primeiro trimestre deste ano, as montadoras realizaram oito paralisações nas linhas de produção e tiveram dois turnos desativados. “Isso quer dizer que verificamos um crescimento, mas é uma produção muito baixa em relação à média histórica do setor”, explicou.

Leite acredita que as paralisações nas linhas de produção deverão continuar nos próximos meses, uma vez que o cenário de desafios para o setor ainda não mudou. Além da demanda em baixa e da elevada taxa de juros, o setor também enfrenta a concorrência dos produtos asiáticos, que afeta tanto as vendas internas, quanto as externas. Nós tivemos um crescimento das exportações para o Chile e para a Colômbia, mas, agora, elas estão diminuindo. O que vimos foi um aumento da participação de produtos asiáticos nesses países. Então, estamos perdendo competitividade no nosso quintal. Mas isso também está acontecendo no Brasil. Veículos de todos os tipos vindos da Ásia representavam cerca de 2% do mercado nacional há poucos anos. Hoje, eles chegam a 3,5% e 4% do total”, afirmou.

Sobre a possibilidade de mais montadoras saírem do Brasil, o presidente da Anfavea diz que o mercado vai ditar o posicionamento dessas empresas. “Hoje, o mercado está muito baixo. Se não trabalharmos para aquecê-lo, vejo isso como algo muito próximo de acontecer. Não tenho dúvida de que, sim, pode acontecer. Principalmente, com essas importações. As montadoras que não têm volumes expressivos de produção vão fazer os cálculos. Elas têm de investir em tecnologia e muitas vezes a conta não fecha. Então, esse mercado precisa crescer e dar sinais de recuperação. Coisa que não estamos conseguindo até o momento”, avaliou, ponderando que, no momento, não existem conversas sobre o fechamento de novas indústrias. ” Faço uma análise de mercado. Quando muitas montadoras vieram para o Brasil (o auge foi em meados da última década), o mercado estava em 3,8 milhões de unidades por ano e estudos apontavam que esse número poderia chegar a 4,5 milhões. E nós estamos na casa dos 2,1 milhões, com produção de 2,3 milhões. Então, é muito baixo. Num mercado que encolhe, é natural ter um número menor de participantes”, disse.

Para enfrentar os desafios e elevar a competitividade do setor, Leite conta que estão sendo trabalhadas algumas medidas, mas a maioria delas para médio e longo prazos. “O que poderia ser feito de imediato é a renovação da frota. Essa não é uma agenda só de aquecimento do mercado. Ela tem um viés socioambiental. Propusemos ao governo a liberação do uso do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para a compra de veículos. O Chile teve uma experiência muito bem-sucedida nesse campo”, destacou.

Carro popular

Outra forma de aquecer o mercado, segundo o presidente da Anfavea, seria colocar em prática a ideia de voltar a produzir carro popular no Brasil. “A ideia começou com as concessionárias, os revendedores de veículos. Eles queriam ter um produto mais acessível para oferecer ao consumidor. O governo veio conversar com a Anfavea, mas a discussão está muito concentrada no preço do produto e, por questões de regulamentação, não podemos debater esse tipo de tema”, disse Márcio de Lima Leite.

Veículos elétricos

Sobre as perspectivas do carro elétrico no Brasil, o presidente da Anfavea disse que a opção é interessante como uma tecnologia a mais para a indústria oferecer ao consumidor, além de contribuir com a descarbonização. No entanto, o Brasil possui a opção de etanol e dos biocombustíveis, que não existem em abundância em outras regiões do mundo, onde os veículos elétricos contam com muitos incentivos e estão avançando.

“Os americanos, por exemplo, oferecem subsídios de até US$ 7,5 mil para quem compra um elétrico. O Brasil não vai fazer isso. O governo não tem esses recursos. Também precisamos trazer esse assunto para a nossa realidade. Só o investimento em uma fábrica de baterias é algo em torno de US$ 4 bilhões. Com um mercado baixo como o nosso, é difícil tornar viável algo desse tipo”.

Leite lembrou que o Brasil já fabrica caminhões e ônibus elétricos, devendo expandir essa produção para outros tipos de veículos também ao longo de dois anos. Contudo, isso não ocorrerá em larga escala. “Também temos de tomar cuidado para não abrir tanto esse mercado para importações. Os investimentos são altos e é preciso dar tempo para que possam valer a pena”.

 

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