Fomento público

Investimento em inovação no Brasil bate recorde e soma R$ 14,7 bilhões em 2025

Por Anchieta Dantas Jr. - Em 27/05/2025 às 6:14 PM

Inovação 1

Até o início de maio, a Finep já havia contratado 525 projetos, com um total de R$ 5,7 bilhões Foto; Freepik

O Brasil deve encerrar 2025 com um volume recorde de investimento público em inovação: R$ 14,7 bilhões. O orçamento é administrado pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e representa um salto de R$ 2 bilhões em relação ao ano anterior.

Até o início de maio, a Finep já havia contratado 525 projetos, com um total de R$ 5,7 bilhões. Entre os principais setores beneficiados estão indústria, descarbonização, saúde, digitalização e defesa.

“Temos desde grandes empresas como a Weg até pequenos negócios de piscicultura em áreas rurais. Um exemplo curioso é de uma empresa em Canela (RS) que está mudando o formato do sabonete para se manter competitiva no Mercosul”, diz Celso Pansera, presidente da Finep.

Além do orçamento previsto, há ainda um potencial de R$ 22 bilhões em recursos de anos anteriores que não foram executados, saldo que a Finep busca destravar junto à Câmara dos Deputados.

Iniciativas estratégicas e cases emblemáticos

A escalada de investimentos teve início em 2023, impulsionada por mudanças na legislação que transformaram o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) em um fundo financeiro, mais próximo do modelo tradicional de mercado.

Outra medida foi a troca da taxa Selic pela Taxa Referencial (TR) nos financiamentos, o que tornou o crédito mais acessível. As novas diretrizes do programa Nova Indústria Brasil também facilitaram a articulação entre governo, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).

Entre os projetos apoiados, estão uma aeronave de decolagem vertical do Instituto Eldorado (R$ 90 milhões), um novo gerador para turbinas eólicas da Weg (R$ 14,6 milhões), e um sistema de cultivo de cana-de-açúcar com sementes sintéticas do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), que recebeu R$ 293 milhões. Há ainda um sistema para capturar e armazenar CO₂ gerado na produção de etanol, desenvolvido pela FS Bioenergia (R$ 167 milhões).

Um dos casos de maior destaque, segundo Pansera, é um projeto da USP voltado à produção de órgãos humanos em porcos geneticamente modificados — rim, coração e fígado. “São órgãos que respondem por 80% da fila de transplantes no Brasil. É uma tecnologia brasileira com potencial global”, destaca.

Principais desafios

O presidente da Finep reconhece, no entanto, que nem todos os investimentos dão certo. “Mas é assim que a inovação funciona. A construção de micro reatores nucleares, por exemplo, que receberam R$ 30 milhões, pode revolucionar a geração de energia em regiões isoladas.”

A agência opera com financiamentos reembolsáveis e não reembolsáveis. O primeiro tipo funciona como crédito para empresas, especialmente as de menor porte, com receita de até R$ 300 milhões. Já os recursos não reembolsáveis são voltados a instituições científicas e tecnológicas sem fins lucrativos.

Para Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV, a falta de cultura de inovação no setor público e a baixa tolerância ao erro ainda travam parte dos avanços. “O erro é parte do processo. O Brasil investe pouco mais de 1% do PIB em inovação, enquanto a China já passa de 2,5%”, afirma.

Casos como o do Pix, desenvolvido pelo Banco Central, e o da uva Vitória, criada pela Embrapa, mostram o potencial brasileiro. “Mas ainda falta um sistema que transforme ciência em produto com retorno financeiro para o Estado”, diz Kanter.

Angelica Mari, CEO da consultoria Futuros Possíveis, reforça que o tripé universidade–empresa–governo ainda é pouco articulado no Brasil. “Sem isso, o gasto público em inovação dificilmente alavanca o investimento privado”, conclui. (Com informações do Estadão)

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