O encontro entre Lula e Trump foi considerado um gesto político importante para reabrir o diálogo entre os dois países FOTO: Ricardo Stuckert

Durante encontro em Kuala Lumpur, na Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao presidente americano Donald Trump uma pasta vermelha contendo dados e argumentos técnicos para tentar reverter o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O gesto marcou um novo esforço de aproximação diplomática entre os dois países.

Segundo integrantes do governo, o documento reúne posições oficiais do Brasil em negociações bilaterais, com foco na suspensão das tarifas comerciais e na revisão de sanções aplicadas a cidadãos brasileiros — entre eles, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

No diálogo com Trump, Lula destacou que o ex-presidente Jair Bolsonaro — condenado por tentativa de golpe de Estado — não é alvo de perseguição política, defendendo a legalidade do processo conduzido pelo STF.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil acumula déficit de US$ 5,1 bilhões com os Estados Unidos entre janeiro e setembro deste ano. Quando considerados também os serviços, o saldo negativo ultrapassa US$ 28 bilhões.

Entre os principais pontos de atrito está a investigação americana baseada na Seção 301 de sua legislação comercial, que acusa o Brasil de práticas desleais contra empresas dos EUA. Um dos alvos é o Pix, sistema de pagamentos instantâneos que Washington alega favorecer instituições nacionais. O governo brasileiro, no entanto, argumenta que o Pix é uma plataforma pública e aberta, que amplia a competição e a inclusão financeira.

Etanol, carne e pirataria

Outros impasses envolvem tarifas sobre etanol e carne suína. Os Estados Unidos pressionam por maior acesso ao mercado brasileiro, enquanto mantêm barreiras e subsídios internos. Brasília reforça que cumpre as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e cobra reciprocidade no comércio de açúcar.

O documento também aborda as acusações americanas de pirataria e contrabando em regiões como a 25 de Março, em São Paulo. O governo brasileiro rebate as críticas com dados de apreensões, fiscalizações e acordos internacionais em andamento.

Venezuela e próximos passos

O dossiê entregue a Trump reserva ainda espaço para a crise na Venezuela, tratada como tema de segurança regional. O Planalto defende uma solução diplomática e condena ações militares no Caribe sob o argumento de combate ao narcotráfico.

O encontro entre Lula e Trump foi considerado um gesto político importante para reabrir o diálogo entre os dois países. Uma missão de alto nível deve seguir para Washington nos próximos dias, com a participação do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro da Fazenda Fernando Haddad e do chanceler Mauro Vieira.