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O quê esperar da semana

Por Admin - Em 25/10/2021 às 11:54 AM

Acordando de sonhos intranquilos

Segunda-feira, última semana de outubro, e o mercado acorda de sonhos intranquilos como  Gregor Samsa (personagem de A Metamorfose, de Kafka). Tem reunião do Comitê de Política Monetária e, com todo o movimento de instabilidade da semana passada, a aposta dos analistas é de uma Selic mais alta no fechamento do ano.  A perspectiva é de 11% em dezembro e entre 1,25% a 1,50% nesta reunião. A economia depende da expectativa para se movimentar. Precisa sentir confiança, humor positivo ou, pelo menos, fortes sinais nessa direção. Entrevistas do ministro da Economia com mãos e voz trêmulas, argumentos fracos, falta de convicção e frases de efeito não valem muito, na atual conjuntura política e econômica. Ainda mais tendo ao seu lado um presidente da República  desgastado.  Para quem olha com lupa, o cenário econômico pode – e vai – piorar. A sexta-feira deixou uma onda de revisão de projeções nos juros. Não falta muito, convenhamos, para dois dígitos no patamar da Selic.

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O dragão dos dois dígitos

Há bastante tempo, a economia brasileira não experimenta os dois dígitos em fundamentos como juros e inflação. O viés de alta em ambos  está ocorrendo ao mesmo tempo. Esse movimento pode acordar dragões adormecidos desde muito. O ano da eleição  presidencial está se aproximando e, sabendo o quê acontece em períodos assim, a Faria Lima já se preocupa.  Credit Suisse projeta 10,5%; XP estima 11%.  O Brasil tem aquilo que os manuais de Economia chamam de memória inflacionária. Foram décadas de dinheiro desvalorizado, remarcações frenéticas de preço, corte de zeros, novos nomes para a moeda, contar bancárias remuneradas… Correção Monetária!

Momento cringe

Pessoas com menos de 30 anos que estejam lendo essas linhas devem achar que o idioma aqui é o de Marte.  Mas não é. É a língua pátria da instabilidade econômica. Muito característica de países em desenvolvimento como o Brasil. Os mesmos que formavam um  tal de Terceiro Mundo, tipo de periferia cujos centros eram Estados Unidos e países da Europa como Alemanha, Reino Unido e França. Até os anos 1990 do século 20 era assim. O mundo dividido entre Primeiro e Terceiro Mundo. O segundo? Economias médias como Canadá, boa parte do continente europeu, os “Tigres Asiáticos”, como Hong Kong, Singapura e Coreia do Sul, além de Austrália e Nova Zelândia. E – pasmem! – a China. Mas não  eram reconhecidos como Segundo Mundo e, sim, como nações em pleno e rápido desenvolvimento econômico, social e educacional. Toda essa conversa cringe é para dar um parâmetro sobre a involução pela qual estamos passando agora. Depois do Plano Real, em 1994, o Brasil começou uma trajetória de crescimento que o levou a ser a sexta economia do mundo. Até 2012 e 2013, tínhamos um ambiente de economia estável, blindada aos cenários externos, moeda forte, reservas cambiais que ultrapassavam os US$ 300 bilhões, superávit fiscal e pleno emprego.

Carona no DeLorean

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Crédito: Internet

Não é filme, não. É cenário. O ambiente político brasileiro desde 2018 tem sido de constante instabilidade. A montanha-russa emocional do Planalto repercute na economia do país de maneira direta e intensa. Quantas vezes ouvimos, nos últimos anos, as expressões “de tédio não morremos no Brasil” ou “o roteirista do Brasil é a Shonda Rhimes”. Tem a pandemia também. Denúncias de toda natureza, da corrupção às suspeitas na área penal, fazem todos nós querermos pegar uma carona no DeLorean e voltar a um passado recente. Onde, em vez de turbulências e tsunamis, havia marolinhas. E qualidade de vida, proporcionada pelo considerável aumento do poder de compra de todas as camadas sociais. Do pobre ao bilionário.

Juro maior é trava

Economia tem quase tantas regras quanto a gramática da Língua Portuguesa. E uma delas é: juro maior estanca o crescimento econômico. E com inflação, fica ainda pior. Chegaremos ao Natal, sem liquidez, com crédito caro e população endividada. Comércio com vendas menores, indústrias menos demandadas para a produção e arrecadação menor. O mercado já vem projetando quadro de estaginflaçao (estagnação + preços em alta) há um bom tempo. Mesmo antes de o vírus da Covid atacar o Planeta e paralisar economias por toda a Terra redonda, já havia previsões em torno de 1%, para 2022.

Teto furado e eleição à vista

O furo do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior, é um dos protagonista do nervosismo destes dias. E comprovou a realidade nua e crua de que a política interfere na economia.  Então, “não é a economia, estúpido!” – referência à  fala que teria sido feita por um assessor de George W. Bush na sua derrota para Bill Clinton na corrida presidencial dos Estados Unidos.  É a política. Falamos sobre isso na sexta-feira passada. E a semana começa ainda contaminada por essa conjuntura,  que a depender dos indícios, permanecerá assim. O ministro da Economia, Paulo Guedes, sinaliza  ter jogado a toalha  e o país vai viver um tipo de economia disfarçada  de nacionalismo retrógrado e ineficiente. Ajuste fiscal para quê, se a eleição bate à porta?

Inteligência Emocional

Depois da debandada de quatro secretários de sua equipe, Paulo Guedes atendeu a pedidos de políticos e anunciou o novo  secretário especial do Tesouro e Orçamento. É Esteves Colnago. A ideia é conter a forte reação aos acontecimentos. A Bolsa caiu 7,28% na semana, o pior desempenho desde março do ano passado. Sexta-feira, o Ibovespa fechou aos 106,2 mil pontos, queda de 1,34%. O dólar, por sua vez, subiu 3,12% na semana e fechou em R$ 5,6273.  Colnago parece ter conquistado a vaga por  “alta inteligência emocional, conhecimento, domínio de máquina”.

E a gente? Fica como?

Não temos como escapar de mais uma semana agitada Além da reunião do Copom, serão divulgados dados da inflação. O IPCA-15,  IGP-M de outubro, taxa de desemprego para o mês de agosto e Caged de setembro. Tudo isso e mais os balanços trimestrais a serem apresentados ao longo da semana, como o da Vale e da Petrobras. Enquanto essa coluna era escrita, às 09h08, o Ibovespa futuro avançava 0,99%,, o dólar caía 0,17%, a R$ 5,6575. Nos Estados Unidos, o mercado também acompanha os resultados trimestrais de suas empresas.  Os futuros da S%P 500 avançavam 0,16%,  os da Dow Jones e da Nasdaq 100 subiam 0,08% e 0,29%, respectivamente. No mais, é fazer a oração da serenidade e iniciar mais essa semana com disposição e fé que o mercado possa ficar mais calmo.

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