IMPACTO DE US$ 130 MILHÕES
Ricardo Cavalcante defende medidas rápidas e setoriais ao ‘tarifaço’ dos EUA
Por Marcelo Cabral - Em 14/08/2025 às 8:42 PM

Ricardo Cavalcante preocupa-se com empregos e situação das empresas Fotos: George Lucas/FIEC
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Ricardo Cavalcante, manifestou preocupação com o impacto da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos a produtos cearenses, que, segundo ele, ameaça comprometer cadeias produtivas inteiras e milhares de empregos no Estado. A declaração foi feita durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (14), ao lado do vice-presidente da FIEC, Carlos Prado, do presidente do Simagran, Carlos Rubens, e do economista-chefe da entidade e gerente do Observatório da Indústria, Guilherme Muchale.
Cavalcante destacou que as exportações para o mercado norte-americano representavam mais de 51% do total cearense e resultam de um trabalho de internacionalização construído ao longo de mais de 20 ou 30 anos pelas empresas locais. Ele lembrou que a tarifa anterior de 10% foi acrescida de mais 40 pontos percentuais, alcançando 50% e tornando inviável a competitividade dos produtos cearenses para o mercado norte-americano.
“A gente tem o cliente americano querendo comprar nossos produtos, mas estamos com uma sobretaxa de 50%, o que inviabiliza qualquer comprador de lá adquirir nossas mercadorias. Precisamos resolver essa taxação o mais rápido possível, para não fecharmos as nossas cadeias produtivas”, destaca. Afinal, como o Ceará é o estado mais impactado do Brasil, por exportar 51% para os EUA, com setores muito atingidos, a velocidade de negociação é a medida mais relevante.
O presidente da FIEC citou medidas adotadas pelo Governo do Ceará e pelo Governo Federal que atendem parte das reivindicações do setor produtivo, como o financiamento via Pronampe e a devolução de 3,1% dos valores exportados por meio do Reintegra. Ainda assim, reforçou que os benefícios deveriam retroagir a janeiro deste ano para gerar fôlego financeiro às empresas.
“Veio o financiamento via Pronampe, o Reintegra com 3,1%, que é um capital de giro que o Governo devolve para quem exporta. Mas a decisão saiu daqui para a frente, e não estamos vendendo. A nossa ideia é que o Reintegra pudesse nos devolver de janeiro a julho deste ano o que a gente exportou para os Estados Unidos, como capital de giro para as empresas poderem se fortalecer e continuarem com suas atividades”, afirma.
Discussões devem ocorrer setorialmente
O dirigente defendeu que as discussões avancem de forma setorial, considerando as particularidades dos mais de 19 segmentos exportadores do Ceará. “Estamos discutindo com os empresários exportadores, mostrando o que está sendo feito, mas precisamos ter uma solução do Governo com relação a alguns pedidos que fizemos, como o Reintegra, o IPI e a Lei Kandir. O mais importante é que estamos perdendo o mercado americano e todos estão querendo estar lá. Não podemos perder esse espaço”, salienta.
Entre os setores mais afetados, Cavalcante citou a pesca, responsável por cerca de 65 mil empregos e mais de seis mil embarcações; a cera de carnaúba, que emprega mais de 50 mil pessoas; e a castanha de caju. Ele também mencionou a água de coco, que exporta mais de US$ 11 milhões para os EUA, como exemplo de potencial ainda subaproveitado no mercado interno.
“Temos o setor de água de coco que exporta mais de US$ 11 milhões para os Estados Unidos e, hoje, uma vez por semana vende para a merenda escolar do Paraná e poderíamos fazer o mesmo aqui. A gente estava numa situação espetacular, de janeiro a junho vendemos US$ 544 milhões para os EUA e veio esse problema, que precisa ser tocado não politicamente, mas sim visando o emprego e a condição das empresas”, assevera.
O chamado ‘tarifaço’ impactou cerca de US$ 130 milhões em exportações cearenses, atingindo pesca, castanha de caju, cera de carnaúba, água de coco, calçados, couro, autopeças, frutas, pás eólicas e minerais. “Mas o cliente americano está louco para continuar comprando os nossos produtos. O que está impactando é essa sobretaxa, e acho mais importante é que os governos estadual e federal vejam a possibilidade de encontrarmos uma solução para que ela seja absorvida, momentaneamente, para não perdermos uma cadeia produtiva relevante e que gera cerca de 150 mil empregos, mesmo que temporariamente”, explica.
O presidente da FIEC alertou ainda para o efeito colateral da queda nas vendas para os EUA: outros países compradores têm pressionado para reduzir preços, o que fragiliza ainda mais o setor exportador. Segundo ele, a FIEC busca novos mercados, mas precisa de apoio governamental pelos próximos 120 dias para ajustar as demandas. “Tem algumas situações que ainda estão em aberto, como as taxas de juros dos empréstimos para as empresas, pois alguns falam em 8% e outros em 10% ano, o que é um absurdo para o mercado internacional”, completa Ricardo Cavalcante.

Carlos Prado, Carlos Rubens, Ricardo Cavalcante e Guilherme Muchale durante a coletiva de imprensa
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