Marcelo Noronha, CEO do Bradesco Foto: Douglas Filho

O CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, foi o convidado da mais recente edição do CEO Lunch promovido pelo Experience Club Nordeste, na quinta-feira (24), em Fortaleza. Diante de um grupo seleto de empresários e executivos, Noronha compartilhou análises sobre os rumos da economia global, os impactos no setor financeiro brasileiro e os movimentos estratégicos do banco em um cenário marcado por transformações tecnológicas e regulatórias.

Em entrevista ao Portal IN, o executivo abordou temas centrais para o sistema financeiro, como o avanço das fintechs, a reforma tributária, a digitalização do setor bancário e os pilares que sustentam a estratégia do Bradesco para os próximos anos.

Impactos da geopolítica na economia e no crédito

Questionado sobre os efeitos do cenário geopolítico global, Noronha destacou que as recentes medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos já provocam uma desaceleração da atividade econômica mundial — com reflexos diretos no Brasil. “O Brasil está inserido no mundo, e os bancos estão inseridos na economia brasileira. Se houver desaceleração, vamos acompanhá-la. Mas, ainda assim, projetamos crescimento positivo em 2025”, afirmou.

Ainda de acordo com ele, a inflação tende a convergir para 3,7% em 2026, dentro da meta estipulada, e a taxa Selic deve se estabilizar em 14,75% ainda em 2025. O executivo também destacou a resiliência da economia brasileira, puxada pelo agronegócio e pela recuperação gradual do mercado de trabalho.

Reforma tributária: desafios e ajustes em andamento

Sobre a reforma tributária em discussão no Congresso Nacional, Noronha reconheceu os desafios e incertezas que o novo modelo impõe ao setor financeiro. “Há pontos ainda em definição, e trabalhamos intensamente junto à Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para construir um arcabouço regulatório sólido. Ainda existem ajustes a serem feitos com o Congresso e a Receita Federal”, disse.

Estratégia digital e competição com fintechs

Com o avanço das fintechs e novas plataformas de crédito, o Bradesco aposta em diferenciação e transformação digital para manter competitividade. “Temos um grande projeto de transformação em curso. A digitalização é uma realidade para os bancos tradicionais e para as fintechs. O Bradesco está preparado para competir no curto e no longo prazo”, afirmou.

Noronha ressaltou ainda que o banco já atua com frentes digitais específicas e busca aprimorar a experiência do cliente de forma contínua. “Somos um banco universal. Atendemos pessoas físicas e jurídicas de todos os perfis e regiões. Isso exige soluções estruturadas para diferentes segmentos.”

Nesse sentido, o CEO reforçou a transformação estrutural em curso no Bradesco, com destaque para o uso intensivo de tecnologia, inteligência analítica e machine learning (aprendizado de máquina) nas áreas de crédito e cobrança. “Estamos entregando 53% mais em produtividade tecnológica do que em 2024. Isso é resultado de uma reorganização profunda, que aumenta a eficiência e a agilidade do banco”, afirmou.

Inserção no Drex e inovações do Banco Central

O executivo também comentou a atuação do Bradesco no processo de digitalização do Sistema Financeiro Nacional, com destaque para a participação nos testes da moeda digital Drex. “Estamos muito inseridos nesse cenário. Temos uma área dedicada à estratégia regulatória e aos ativos digitais. Veremos novidades em breve, mas ainda não posso adiantar detalhes”, disse.

Perspectivas e pilares estratégicos

Ao projetar os próximos anos, Noronha reforçou a confiança no mercado brasileiro e destacou as fortalezas do Bradesco. “Temos o maior grupo segurador da América Latina e mais de 70 milhões de clientes. Somos líderes em alguns segmentos e segundos em outros. Nossa presença no país é ampla, tanto no varejo como no private banking.”

Para além disso, ele também mencionou iniciativas como a presença internacional, com destaque para a operação em Miami, e o alcance do Bradesco Expresso, voltado às regiões mais remotas do Brasil. “Nosso foco é seguir relevantes para o cliente, seja ele de alta renda ou do interior do país”, concluiu.