MERCADO DE GLP

Volta da Petrobras à revenda de gás levanta debate sobre concorrência e preços

Por Redação - Em 25/08/2025 às 11:00 AM

Tanque De Diesel R5 Na Rpbc Foto Wilson Melo Agencia Petrobras

O tema pode chegar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, já que a estatal definiria não apenas o preço de atacado, mas também teria presença direta na revenda

A Petrobras estuda voltar ao mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, o que pode alterar a dinâmica de um setor dominado por poucas empresas privadas. A estatal já responde por mais de 90% da oferta nacional do produto e também concentra as importações, o que levanta questionamentos sobre equilíbrio concorrencial caso a empresa passe a disputar espaço na ponta da cadeia.

Atualmente, o mercado de distribuição está concentrado em quatro grupos — Ultragaz, Copa Energia, Supergasbras e Nacional Gás — que controlam cerca de 90% do setor. A Petrobras deixou a área em 2020, quando vendeu a Liquigás, no contexto da política de desinvestimentos. Agora, sob a gestão de Magda Chambriard, a estatal avalia ampliar sua atuação em segmentos considerados estratégicos e rentáveis.

Especialistas apontam que, embora o consumo de GLP seja estável — cerca de 7,6 milhões de toneladas por ano, com 68% da demanda voltada para residências — a presença da Petrobras na distribuição pode levantar dúvidas sobre isonomia nas transações. “A empresa que domina a produção e importação passaria a competir com seus próprios clientes. É um desafio garantir condições justas”, disse Rivaldo Moreira Neto, diretor da A&M Infra.

O tema pode chegar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), já que a estatal definiria não apenas o preço de atacado, mas também teria presença direta na revenda. Em 2023, por exemplo, a Acelen, controlada pelo fundo Mubadala, acusou a Petrobras de abuso de poder dominante em negociações envolvendo a refinaria de Mataripe, na Bahia.

Para analistas, a eventual reentrada da Petrobras também carrega peso político, especialmente em meio à preparação do governo federal para lançar o programa Gás para Todos, que substituirá o Auxílio Gás. A promessa é atender até 17 milhões de famílias com o valor integral de um botijão de 13 kg. “O GLP é um produto essencial no cotidiano das famílias. Qualquer decisão da Petrobras nesse setor terá impacto não só econômico, mas também social e regulatório”, avaliou Betina Moura, especialista da consultoria Argus.

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