Viagem no tempo

Alentejo transforma história árabe em experiência para quem percorre a região

Por Paulla Pinheiro - Em 19/12/2025 às 12:31 AM

Vista Parorâmica De Mértola Crédito Turismo Do Alentejo

Vista panorâmica de Mértola, cidade no Alentejo, em Portugal – Crédito Turismo do Alentejo

Há destinos que convidam a desacelerar e a observar. O Alentejo, em Portugal, é assim. Um território onde a paisagem ampla, as vilas brancas e o silêncio bem colocado criam o cenário ideal para perceber, nos detalhes, a herança árabe que atravessa séculos e ainda molda a identidade da região. Viajar por ali é aceitar um percurso que mistura história, arquitetura, sabores e uma forma de viver que valoriza o essencial.

Desde a chegada dos árabes, no século VIII, o Alentejo incorporou referências que permanecem visíveis no traçado das cidades, nas muralhas, nos castelos e na estética conhecida como manuelino-mudéjar — fusão delicada entre influências islâmicas e ibéricas. Azulejos decorados, tapeçarias, peças em couro e joias artesanais são vestígios desse período em que o conhecimento e as artes floresceram e deixaram marcas duradouras. Em Mértola, frequentemente chamada de a cidade mais árabe de Portugal, essa herança se revela em ruas estreitas e caiadas, no castelo sobre a colina e na antiga mesquita que hoje abriga a Igreja de Santa Maria. A cada dois anos, o Festival Islâmico devolve à cidade o clima de um grande souk, com música, gastronomia e artesanato que transformam o centro histórico em uma celebração cultural ao ar livre.

O percurso segue por cenários igualmente sugestivos. O Castelo de Alvito, construído no final do século XV, combina elementos góticos e muçulmanos e hoje funciona como pousada histórica — uma oportunidade rara de atravessar a noite dentro de uma fortaleza carregada de memórias. Em Alcácer do Sal, o castelo de origem islâmica se impõe sobre o rio Sado, oferecendo uma vista ampla da paisagem e abrigando a Pousada D. Afonso II, onde passado e presente convivem com naturalidade.

Até os sabores contam essa história. Ingredientes como limão, coentro e passas, palavras incorporadas ao idioma e a própria cataplana, símbolo da gastronomia portuguesa, remetem à presença moura e ao diálogo cultural que atravessou o tempo. No Alentejo, tudo parece convidar à permanência: a comida, a arquitetura, o ritmo e a forma generosa como o passado se apresenta no cotidiano.

Conhecer o Alentejo é aceitar um convite à contemplação. Entre castelos, vilas e sabores, a região se revela como um destino que não se visita apenas — se vive, se percorre e se guarda.

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