Movimento criativo

Chanel transforma metrô de Nova York na passarela do Métiers d’Art 2026

Por Paulla Pinheiro - Em 03/12/2025 às 4:40 PM

Chanel Métiers D‘art Foto Divulgação (2)

Modelos atravessam a plataforma do metrô no desfile Métiers d’Art 2026, em que a Chanel transformou uma estação desativada em passarela urbana – Foto: Divulgação

A Chanel voltou a surpreender Nova York ao apresentar o Métiers d’Art 2026 em uma estação de metrô desativada no Bowery, transformada por Matthieu Blazy em cenário para uma carta de amor à cidade. Em seu primeiro Métiers d’Art à frente da maison, o diretor criativo escolheu um espaço que traduz a alma nova-iorquina — democrático, intenso, cheio de histórias — e o elevou à escala cinematográfica.

Antes dos looks ocuparem a plataforma, um curta de Michel Gondry, estrelado por A$AP Rocky e Margaret Qualley, abriu a noite. Na plateia, nomes como Martin Scorsese e Wagner Moura davam o tom cultural do encontro, que uniu moda, cidade e narrativa em um mesmo gesto. Blazy, que viveu em Nova York enquanto trabalhava com Raf Simons na Calvin Klein, comentou que sempre viu a cidade como “um personagem principal”. E foi exatamente assim que ela se apresentou: viva, protagonista e inevitavelmente presente em cada detalhe do desfile.

A coleção surgiu como um mosaico de mulheres reais — da jornalista dos anos 1970 à executiva dos anos 1980 —, refletindo a pluralidade feminina que ocupa o metrô diariamente. Os trens cruzavam o túnel enquanto modelos desfilavam vestidos bordados, tweeds vibrantes, bolsas enormes e peças que misturam elegância e humor nova-iorquino. Blazy aproximou o ritual da moda de um cotidiano reconhecível, sem perder a sofisticação. E ali, no concreto da estação, a artesania dos ateliês parceiros brilhou com força própria: bordados da Lesage, plumas da Lemarié, sapatos da Massaro, materiais que enganam o olhar — como o denim que é seda — e tweeds que revelam estampa de oncinha.

A escolha de Nova York também ecoa lembranças de Coco Chanel, que encontrou na cidade, nos anos 1930, um fôlego criativo renovado. Foi ali que ela percebeu a relação descomplicada das nova-iorquinas com a moda e a força de suas silhuetas, referência revisitada por Blazy ao recontar essa ligação histórica. Em tempos em que o mercado de luxo norte-americano reassume papel estratégico para as grandes grifes, a maison aproveita o momento para reafirmar presença.

No grand finale, Blazy rompeu com a tradição das noivas monumentais da era Lagerfeld e apresentou um vestido que parecia saído de um casamento no City Hall — delicado, pragmático, absolutamente contemporâneo. Uma síntese precisa da cidade e da mulher que a habita.

O Métiers d’Art 2026 deixa a sensação de que Chanel e Nova York dividem a mesma narrativa: intensa, inquieta e movida pela inteligência artesanal. E Matthieu Blazy, ao escolher uma estação de metrô como palco, devolve à moda aquilo que ela tem de mais potente — a capacidade de transformar o cotidiano em espetáculo.

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