
Tecnologia e Paladar
Chefs recorrem à IA para criar pratos, ambientes e narrativas na cozinha do futuro
Por Paulla Pinheiro - Em 16/06/2025 às 3:18 PM

Imagem gerada por Inteligência Artificial para um prato de camarão pintado no Esmé, em Chicago
A inteligência artificial já ocupa um espaço nada discreto na alta gastronomia. Em Chicago, o restaurante Next prepara para 2026 um menu de nove etapas assinado por chefs fictícios — entre eles, Jill, uma personagem inventada que teria passado por cozinhas de Ferran Adrià, Jiro Ono e Escoffier. Toda sua trajetória foi criada pelo chef Grant Achatz em diálogos com o ChatGPT, que também sugeriu pratos e estéticas para o cardápio, incluindo um sorvete de crème fraîche com caviar em telha de batata moldada como casca de ovo.
O movimento não é isolado. Em Seattle, o chef Aaron Tekulve usa a IA para acompanhar sazonalidades. Jenner Tomaska, de Chicago, busca variações criativas com prompts personalizados, combinando tradição e inovação, enquanto o premiado Ned Baldwin, em Nova York, recorre ao ChatGPT para entender reações químicas na produção de linguiças. Mais do que automatizar tarefas, esses chefs usam a IA como uma espécie de interlocutor paciente, que responde sem julgamento e inspira novas possibilidades.
Além dos sabores, a tecnologia também desenha atmosferas. No restaurante Esmé, pratos surgem a partir de imagens geradas pelo Midjourney e depois traduzidas por ceramistas e artistas visuais. No Seline, de Santa Monica, o chef Dave Beran testou climas visuais até encontrar, com a ajuda da IA, o ponto ideal entre mistério e aconchego para o novo projeto.
Ainda que a execução continue humana, o toque digital da criatividade já compõe receitas, espaços e narrativas. Em um tempo em que o improviso divide espaço com algoritmos, a inteligência artificial se firma — ao menos por ora — como ferramenta, não substituição. E segue, madrugada adentro, como companhia silenciosa para quem insiste em reinventar sabores.
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