Natureza Submersa
Ruver Bandeira revela belezas submersas do Mato Grosso do Sul em ensaios de fotografia subaquática
Por Marlyana Lima - Em 27/12/2025 às 2:37 AM

Rio Azul e Fervedouro – Bodoquena – Fotos: Ruver Bandeira
Há destinos que se revelam à primeira vista. Outros exigem silêncio, tempo e profundidade. Foi nesse segundo território — o do invisível aos olhos apressados — que o fotógrafo cearense Ruver Bandeira construiu um de seus mais recentes ensaios de fotografia subaquática, realizado no Mato Grosso do Sul, com passagens por Bonito e Bodoquena. Ali, entre cavernas alagadas, fervedouros e rios de transparência quase irreal, a natureza se apresenta como um espetáculo que dispensa artifícios.
O roteiro incluiu alguns dos cenários mais emblemáticos do ecoturismo brasileiro, como o Abismo Anhumas, a Gruta do Mimoso, a nascente do Olho D’Água, o Rio da Prata, além do Rio Azul e dos fervedouros de Bodoquena. Localizado no Centro-Oeste do Brasil, o Mato Grosso do Sul abriga uma das maiores biodiversidades do planeta, um patrimônio natural que exige não apenas contemplação, mas também responsabilidade ambiental.

Rio da Prata, Nascente do Prata
Mais do que registrar paisagens, o objetivo do ensaio foi revelar as belezas naturais submersas, destacando a riqueza da flora e da fauna aquática em ambientes onde a água funciona como lente e cenário. No Abismo Anhumas, situado a 23 km do centro de Bonito, a experiência começa antes mesmo do mergulho.
Descoberto na década de 1970 após um incêndio na mata da fazenda Anhumas, o local guarda uma caverna monumental acessada por um rapel de 72 metros de altura — hoje realizado com sistema elétrico. À medida que se desce, o salão de espeleotemas calcários se impõe como uma verdadeira catedral natural, iluminada de forma mais intensa entre dezembro e início de fevereiro, período escolhido para os registros.

Abismo Anhumas, no Mato Grosso do Sul
Sob a superfície, o lago de águas cristalinas alcança até 80 metros de profundidade. Para mergulhadores recreativos, o limite é de cerca de 18 metros, suficientes para observar formações calcárias impressionantes, entre elas o maior cone submerso do mundo. Ali, a água mantém temperatura média de 18 graus e preserva vestígios arqueológicos raros, como a ossada de um tamanduá com mais de 2 mil anos, em notável estado de conservação.
Gruta do Mimoso
Outro ponto de destaque é a Gruta do Mimoso, uma caverna alagada que combina águas translúcidas e formações calcárias raras, como estalactites e cones. Reaberta à visitação em 2022, após anos fechada, o espaço oferece uma experiência que remete a um cenário quase jurássico. Para traduzir essa atmosfera, Ruver utilizou a técnica de longa exposição com light painting, configurando a câmera enquanto sua equipe — formada majoritariamente por mergulhadores especialistas em cavernas — iluminava manualmente as estruturas com lanternas, em um exercício de precisão, paciência e coordenação.

Gruta Mimoso
Na região da nascente e do Rio da Prata, o percurso começa em terra firme. A caminhada pela mata ciliar dos rios Olho d’Água e Prata atravessa uma área protegida por uma RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural, onde árvores de grande porte, orquídeas, bromélias e a presença constante da fauna — como quatis, macacos, antas e porcos-do-mato — preparam o olhar para o que vem a seguir. A nascente do Rio Olho D’Água se revela como uma piscina natural de águas translúcidas, povoada por plantas aquáticas, répteis como o jacaré-coroa e uma diversidade de peixes, entre piraputangas, piaus, lambaris, dourados e curimbatás.

Rio Da Prata, Nascente do Prata
Em Bodoquena, a cerca de 90 km de Bonito, o Rio Azul e os fervedouros integram o empreendimento Nascentes da Serra, que combina passeios de barco pelo Rio Salobra com flutuações em águas de altíssima visibilidade. Aberta ao público desde 2022, a flutuação no Rio Azul percorre 620 metros e oferece um fenômeno singular: em dias de sol, a oxigenação da água cobre o corpo de minúsculas bolhas de oxigênio liberadas pelas plantas aquáticas. Eventualmente, a paisagem pode ser cruzada por sucuris, jacarés ou pela ariranha, aparições raras que exigem sorte e silêncio.
Os fervedouros, por sua vez, são nascentes de rios subterrâneos que, sem espaço para vazão, formam piscinas naturais de equilíbrio delicado. Por serem ambientes extremamente sensíveis, a visitação segue regras rigorosas, como a proibição de pisar nas bordas, evitando a suspensão de sedimentos e a perda da transparência da água.
Com esse ensaio, Ruver Bandeira reafirma a fotografia subaquática como linguagem capaz de unir arte, documentação ambiental e consciência ecológica.
Confira mais imagens!
- Rio Da Prata, Nascente Do Prata
- Rio Azul e Fervedouro – Bodoquena
- Abismo Anhumas
- Abismo Anhumas
- Abismo Anhumas
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- Gruta do Mimoso
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- Abismo Anhumas
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