Combate a Fraudes

Banco Central usará novo mecanismo digital para rastrear dinheiro perdido em golpes via Pix

Por Marlyana Lima - Em 16/06/2025 às 4:21 AM

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Banco Central usará nova ferramenta para combater os golpes via Pix

Em resposta ao aumento expressivo dos golpes envolvendo o sistema de pagamentos instantâneos Pix e à baixa taxa de recuperação dos valores desviados, o Banco Central (BC) trabalha no desenvolvimento do MED 2.0, uma nova versão do Mecanismo Especial de Devolução. O lançamento está previsto para o primeiro trimestre de 2026.

A principal inovação será a capacidade de rastrear o percurso do dinheiro fraudado por até cinco níveis de contas, ampliando significativamente o alcance da apuração sobre o destino dos recursos. Hoje, o sistema é capaz de investigar apenas a primeira conta que recebeu a transferência, o que tem favorecido a ação de criminosos, que rapidamente distribuem os valores entre diversas contas de laranjas para dificultar o bloqueio.

Baixo índice de recuperação preocupa

De acordo com dados fornecidos pelo Banco Central à Folha de S.Paulo, o desempenho atual do MED é limitado: de um total de R$ 6,98 bilhões em pedidos de devolução feitos desde 2021, apenas R$ 459 milhões – menos de 7% – foram efetivamente devolvidos às vítimas. Dos 5 milhões de pedidos registrados, apenas 31% foram aceitos.

O principal motivo para as negativas, segundo o BC, é a falta de saldo nas contas receptoras. Em 2024, 86% das recusas ocorreram porque os recursos já tinham sido movimentados antes da análise do pedido, reforçando a importância de uma resposta mais ágil e de maior alcance.

A decisão de criar o MED 2.0 foi motivada pelo próprio mapeamento de comportamento das quadrilhas. O BC identificou que a pulverização dos valores é uma prática cada vez mais comum para driblar os bloqueios. Por isso, a nova tecnologia vai permitir o rastreamento sequencial das transferências, acompanhando a movimentação do dinheiro em tempo quase real.

A implementação, no entanto, representa um desafio técnico expressivo: mais de 800 instituições financeiras participam do ecossistema Pix e terão que adaptar suas plataformas para operar com o novo modelo.

Autoatendimento para vítimas

Outra mudança importante prevista para os próximos meses é a criação de um sistema de autoatendimento para contestações de Pix, que deve estar disponível até 1º de outubro de 2025.

Com a novidade, as vítimas poderão abrir pedidos de devolução diretamente nos aplicativos dos bancos, sem precisar passar pelo atendimento humano das instituições financeiras, como ocorre atualmente.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou durante evento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) que a meta é tornar o processo “simples, ágil e intuitivo”, reduzindo o tempo entre o relato da fraude e a atuação dos mecanismos de bloqueio.

Apesar do avanço representado pelo MED 2.0, especialistas do setor financeiro avaliam que o desafio de recuperar valores integralmente continuará grande, sobretudo nos casos em que os criminosos fazem dezenas de transferências em cadeia em poucos minutos.

A ausência de saldo nas contas envolvidas seguirá sendo uma barreira. Por isso, o Banco Central reforça a orientação de que os usuários redobrem a atenção ao realizar transações e fiquem atentos a golpes de engenharia social, que continuam sendo a porta de entrada para boa parte das fraudes no Pix.

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