Inquérito aberto

Polícia Federal aponta crimes de coação e articulação golpista de Bolsonaro e filho

Por Julia Fernandes Fraga - Em 21/08/2025 às 6:01 PM

Bolsos

Eduardo e Jair Bolsonaro foram indiciados pela Polícia Federal. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados e Lula Marques/Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pai e filho, pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. O indiciamento foi anunciado na noite dessa quarta-feira (20), após a conclusão das investigações sobre a atuação de ambos junto ao governo dos Estados Unidos em meio à crise diplomática provocada pelo tarifaço econômico do presidente norte-americano, Donald Trump. 

Conflito familiar e mensagens reveladas

O inquérito inclui documentos, áudios e mensagens trocados entre pai e filho, que revelam momentos de tensão. Em julho, Eduardo criticou Jair por declarações públicas em que o ex-presidente o chamou de “imaturo”. Nas mensagens, o parlamentar utilizou insultos e, posteriormente, pediu desculpas, cobrando tratamento semelhante ao dispensado a outros ex-chefes de Estado, como Michel Temer.

Articulação internacional

De acordo com a PF, Eduardo Bolsonaro buscou apoio do governo Trump para promover retaliações contra autoridades brasileiras, em especial ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Entre as medidas adotadas por Washington estão o aumento das tarifas de importação, uma investigação contra o sistema de pagamentos Pix e sanções ao ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky. Aliados de Trump afirmaram que Bolsonaro seria alvo de uma “caça às bruxas” no Brasil.

Descumprimento de medidas judiciais

O relatório aponta que Jair Bolsonaro condicionou negociações políticas internas à retirada das tarifas norte-americanas. A investigação também identificou o envio de mais de 300 vídeos a apoiadores pelo WhatsApp, em 3 de agosto, quando manifestações ocorreram em várias cidades. O compartilhamento foi feito mesmo após decisão judicial que o proibia de utilizar redes sociais, prática que a PF equiparou à atuação de “milícias digitais”.

Os investigadores encontraram ainda um documento salvo no celular de Bolsonaro, redigido em 2024, no qual cogita solicitar asilo político ao presidente argentino Javier Milei. O material foi considerado indício de risco de fuga pelo Supremo.

Decisão do STF e próximos passos

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, concedeu prazo de 48 horas para que a defesa de Bolsonaro apresente esclarecimentos sobre o documento de asilo e os descumprimentos de medidas cautelares, incluindo contatos vedados com aliados como o general Braga Netto. Após receber o relatório da PF, Moraes encaminhou o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá sobre eventual denúncia ao Supremo.

Defesa

Em nota, os advogados de Jair Bolsonaro afirmaram ter sido “surpreendidos” pelo indiciamento e negaram qualquer descumprimento das medidas impostas. A defesa informou que prestará os esclarecimentos solicitados pelo STF dentro do prazo estabelecido.

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