A trajetória de Fred Moll inclui a criação sucessiva de empresas vendidas a grupos como United States Surgical, Eli Lilly e Johnson & Johnson

O médico e empreendedor Fred Moll, um dos nomes mais influentes da robótica cirúrgica mundial, voltou ao centro da disputa por inovação no setor. Quatro décadas após deixar o consultório e quase 25 anos depois de sair da Intuitive Surgical — criadora do sistema da Vinci e líder global em cirurgias robóticas — Moll já direcionou US$ 100 milhões de seu próprio patrimônio para startups que buscam moldar a próxima onda da medicina automatizada.

A Intuitive, que ajudou a fundar, contabiliza mais de 10 mil robôs instalados e receita anual superior a US$ 8 bilhões. Mas, enquanto a companhia consolida sua posição dominante, Moll tem se dedicado a um ecossistema de empresas emergentes que aposta em procedimentos mais precisos, acessíveis e potencialmente automatizáveis com apoio de inteligência artificial.

Uma carteira global de apostas

O executivo, hoje com 73 anos, investe e orienta negócios que visam automatizar desde cirurgias cerebrais até colonoscopias e catarata, áreas com forte demanda e escassez de especialistas.

Entre seus principais aportes estão:

XCath (EUA) – Avaliada em US$ 62 milhões, realizou no Panamá o primeiro procedimento robótico para aneurisma cerebral em um humano.

Neptune Medical (EUA) e Jupiter Endovascular – Focadas em soluções para procedimentos gastrointestinais e vasculares.

ForSight Robotics (Israel) – Estimada em US$ 500 milhões, desenvolve robôs para cirurgias de catarata e já levantou US$ 195 milhões em investimentos.

Vitestro (Holanda) – Atua com coleta autônoma de sangue.

Capstan Medical (EUA) – Avaliada em US$ 367 milhões, desenvolve tecnologia robótica para substituição da válvula mitral.

A maior aposta, porém, é a SS Innovations, da Índia, que produz sistemas robóticos para cirurgias cardíacas, urológicas e ginecológicas. Avaliada em US$ 1,2 bilhão, a empresa cresce rapidamente e se posiciona como alternativa mais acessível ao da Vinci, com equipamentos vendidos a partir de US$ 600 mil — menos de um terço do valor do modelo da Intuitive.

A SS Innovations também avança em telesseurgia: em novembro, seu fundador conduziu uma cirurgia cardíaca a quase 300 km de distância utilizando um dos robôs da empresa.

Tecnologia a serviço da escala

Moll afirma que o objetivo central é padronizar a qualidade da cirurgia globalmente, permitindo que médicos medianos alcancem resultados de alto nível. Ele acredita que a combinação de robótica com IA permitirá que máquinas aprendam, caso a caso, quais decisões resultam nos melhores desfechos clínicos, elevando eficiência e segurança.

Especialistas do setor afirmam que a influência de Moll funciona como “selo de credibilidade” para startups ainda em fase inicial. O investidor opera tanto com capital próprio quanto por meio da firma de venture capital Sonder Capital, voltada para tecnologias médicas.

De pioneiro a mentor

A trajetória de Moll inclui a criação sucessiva de empresas vendidas a grupos como United States Surgical, Eli Lilly e Johnson & Johnson, esta última responsável por adquirir sua startup Auris Health por mais de US$ 3 bilhões em 2019. Ele também liderou a Hansen Medical, focada em procedimentos vasculares.

Hoje, com patrimônio estimado pela Forbes em mais de US$ 500 milhões, Moll vê na atual fase da robótica médica uma oportunidade semelhante à que enfrentou nos anos 1990, quando ajudou a trazer ao mercado os primeiros robôs cirúrgicos.

“Estamos diante da chance de dar um salto enorme em relação ao que construímos há 30 anos”, afirma.

Com o avanço da IA e a expansão global da telesseurgia, o investidor acredita que a próxima década será decisiva para democratizar o acesso a procedimentos avançados — e preparar o terreno para robôs capazes de executar, com mais autonomia, cirurgias repetitivas, complexas e de alto volume.