Pós-Pandemia

Ticiana Rolim Queiroz acredita que nascerá uma nova economia, mais justa e equilibrada

Por Pompeu - Em 21/04/2020 às 12:15 PM

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Ticiana Rolim Queiroz 

Desde muito nova, Ticiana Rolim Queiroz, atual Diretora de Gente e Impacto Social da C. Rolim Engenharia, braço de um dos mais tradicionais grupos econômicos do Estado, é envolvida em projetos sociais. “Sempre fui muito ligada à Edisca, Iprede, Associação Peter Pan, entre outras. De início, meu envolvimento, juntamente com meus pais, era mais de ajuda financeira e doação de cestas básicas, por exemplo”, conta. Com o passar dos anos, porém, ela começou a observar que, para acabar com a pobreza, não seria suficiente apenas realizar essa ajuda em dinheiro.

“Apesar de acreditar que todas essas instituições trabalham para o empoderamento das pessoas, para que elas possam sair da pobreza, eu me sentia fazendo um trabalho ainda assistencialista junto delas”, aponta. Segundo ressalta, muito dessa atual visão veio de um livro, lido há cerca de dois anos. “Um Mundo sem Pobreza, de Muhammad Yunus, me inspirou muito, me fez chorar, fiquei muito emocionada. Lá, tem uma frase que diz: ‘Eu sonho com o dia em que as pessoas vão precisar ir a um museu para saber o que era viver na pobreza’. E é assim que penso. Minha vida foi dividida em antes desse livro e depois desse livro”, diz.

Negócios de impacto social
A erradicação da pobreza passa por uma série de soluções. Uma delas são os negócios de impacto social, que buscam o desenvolvimento econômico gerando um impacto positivo para resolver problemas sociais. Sobre esse tema, Ticiana é uma das maiores entusiastas do Estado e que vem trazendo isso à tona. Prova disso é que, constantemente, é convidada a ministrar palestras sobre o assunto.

“Eu decidi que iria falar sobre esse novo modelo de fazer negócios, os negócios de impacto social, e que só iria me aquietar quando, em qualquer mesa de restaurante ou de bar que você perguntasse o que era, a pessoa não olhasse assustada, não lhe chamasse de louca e soubesse do que você estava falando. Então, imagina o tamanho de desafio”, explica. Quem já teve a oportunidade de assistir a algum debate encabeçado pela comunicadora, sabe que uma de suas frases principais é: “Se a sua empresa não se preocupar com o impacto social ou ambiental positivo gerado, por consciência, propósito ou chamado interno, você vai precisar fazer isso por sobrevivência. Não só pela sobrevivência da empresa, mas também pela nossa, seres humanos”.

Somos Um

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Adriana Bezerra, Patrícia Molino, Ticiana Rolim Queiroz e Renata Santiago

Em 2017, Ticiana iniciou um negócio de impacto social com o propósito de possibilitar o empoderamento das pessoas para que elas prosperem, pois somos “todos um”. O negócio capacita pessoas de baixa renda, principalmente, mulheres e jovens, inicialmente, do bairro Bom Jardim, periferia da capital cearense. Desde sua criação, o Somos Um já realizou diversas ações de impacto para beneficiar os mais carentes.

“Com o Florescer, parceria com o IBEF, Flow Desenvolvimento e Prefeitura de Fortaleza, 29 mulheres têm a oportunidade de participar de um curso, de quase cinco meses, com vários módulos, desde líder de si mesmo, meditação, gestão das emoções, até o que é empreender, como empreender, marketing, como vender pela internet, administração financeira da pessoa física e administração financeira da pessoa jurídica. A iniciativa proporciona o empoderamento da mulher, para que prosperem, tenham dignidade e sigam sua vida”, revela.

Além do Florescer, o Somos Um realizou, em 2019, um Hackathon, com a participação de moradores do Bom Jardim e alunos da Unifor. Na ocasião, três negócios foram vencedores e passaram a receber mentoria, aceleração e financiamento. São eles: Corre aqui, plataforma de emprego para apoiar pessoas a conseguirem empregos e conectar com possíveis contratantes; Bom Viver, que realiza reforma das casas do bairro visando a saúde das famílias, e Jardineiro, plataforma de capacitação a distância para que a população possa se profissionalizar, facilitando, assim, a contratação. O Somos Um é, ainda, investidor do Muda Meu Mundo e da Catarina Mina, por acreditar que são negócios de impacto capazes de fazer com que as pessoas possam prosperar.

Com o início da pandemia causada pelo Coronavírus, e o consequente isolamento social, Ticiana começou a ter um novo desafio: apoiar para que a economia do bairro pudesse girar, e fazer com que empreendedores informais, autônomos e microempreendedores individuais não sentissem os efeitos da crise de forma tão arrebatadora. Com isso, passou a atuar em outra frente. Em parceria com o Movimento de Saúde Mental Comunitária, vem mobilizando mulheres do bairro para que produzam dentro de suas casas.

“Essas mulheres já fizeram 3 mil lençóis. Nós compramos o material, damos para elas trabalharem, pagamos mão de obra e doamos todos os lençóis para Estado e Prefeitura. Agora, elas estão produzindo 50 mil máscaras que vamos doar uma parte para a população do próprio bairro e outra parte para Estado e Prefeitura”, assevera. Segundo a própria Ticiana afirma, antes da pandemia, o Somos Um “ensinava a pescar”, entretanto, agora, é chegado o momento de “dar o peixe”.

Com isso, desde a primeira semana da quarentena, surgiu a ideia de fazer a distribuição de uma renda mínima para a população carente, com o “E-dinheiro”. Em parceria com o Banco Palmas, estão criando contas digitais, cadastrando pessoas através das instituições e distribuindo (até o momento, mais de 3 mil pessoas foram beneficiadas), uma renda mínima de R$ 200,00. Desse modo, elas podem comprar alimentação e material de higiene, através de um aplicativo, no comércio do próprio bairro. “Isso possibilita dignidade e poder de compra para as pessoas, fazendo a economia do bairro girar”, afirma Ticiana.

O Somos Um é, ainda, um dos realizadores do Supera Fortaleza, que já distribuiu quase dez mil cestas básicas em Fortaleza.

Desafio Retoma Ceará
Objetivando premiar ideias inovadoras e ágeis para alavancar a retomada da economia do Ceará após a pandemia, o Somos Um, em parceria com o Ninna Hub e a Grow+, lançou, em abril, o Desafio “Retoma Ceará”. Com a participação de gestores públicos, empresários e executivos de empresas privadas, agentes do setor financeiro, professores e estudantes universitários, lideranças comunitárias, bem como demais pessoas interessadas no tema, o intuito é criar ideias inovadoras contemplando aspectos tributários, economia informal, empreendedores informais e informalidade na economia, ampliação e complementação de renda e desburocratização da economia. Os três projetos vencedores serão premiados, respectivamente, com cinco mil reais para o primeiro colocado, três mil para o segundo e dois mil reais para o terceiro.

O Desafio contou com 435 inscritos e todas as ideias premiadas serão colocadas em prática com apoio do Somos Um. “Se a gente unir a força do poder público, do poder privado, das ONGs, das universidades e da sociedade civil, vamos conseguir com muito mais assertividade, rapidez, inteligência e de forma muito mais abrangente. Cada um tem um talento, um limite, uma expertise. Mas quando a gente começa a se unir é como se montasse um quebra cabeça e ele ficasse mais bonito, mais rico. E agora o chamado é para isso. Ninguém vai resolver essa crise sozinho, nem pessoas e nem setores. O poder público também não vai conseguir resolver isso só. Mas se cada um fizer a sua parte, a gente vai conseguir passar por essa com os menores danos possíveis”, revela Ticiana.

Perspectivas para o futuro
Apesar de ressaltar o período difícil pelo qual a economia cearense passará nos próximos meses, a diretora de Gente e Impacto Social da C. Rolim Engenharia, afirma que iremos nos reinventar e que novas ideias, certamente, irão surgir. “Nós, do Somos Um, lançamos o Desafio porque acreditamos e somos otimistas com os talentos que a gente tem no Estado. A crise tem os seus desafios, mas é uma oportunidade de criar. Se tem algo que estou otimista é na capacidade do cearense de lidar com as adversidades. Vão sair lindas ideias e bons projetos. A minha esperança, após o término dessa crise, é a de que nasça uma nova economia, mais justa e equilibrada, não só para o Estado, mas para o Brasil e o mundo”, destaca.

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