
Pioneira no Ártico
Tamara Klink: primeira mulher a passar o inverno no Ártico sozinha
Por B.L.V - Em 13/07/2024 às 6:33 AM
Aos 27 anos, a velejadora e escritora brasileira Tamara Klink fez história ao se tornar a primeira mulher a passar o inverno sozinha no Ártico. Esta expedição desafiadora levou Tamara a um fiorde inabitado na Groenlândia, onde ficou presa no mar congelado por oito meses durante o rigoroso inverno polar, sem sol e sem qualquer contato humano por metade desse período.

Tamara Klink
Filha do lendário navegador Amyr Klink, Tamara herdou a paixão pelo mar e a determinação para enfrentar grandes desafios. Amyr foi a primeira pessoa a atravessar o oceano Atlântico a remo, em 1984, e agora Tamara segue os passos do pai com suas próprias conquistas. Em 2021, ela já havia se tornado a mais jovem brasileira a navegar da França ao Brasil em solitário.
Aventura e Preparação
Tamara embarcou nesta aventura para descobrir o que acontece com alguém quando está completamente só. “Uma das razões para fazer isso agora foi descobrir o que acontece com a gente quando estamos sós. Qual a verdade sobre a solidão, o escuro, o medo”, disse Tamara em uma entrevista. Durante o período de isolamento, ela ficou ancorada na costa oeste da Groenlândia, ajustando seu barco e trocando experiências com pescadores locais.
A preparação para a expedição foi intensa e envolveu um ano de treinamento mental com a psicóloga Nair Pontes, que incluiu a elaboração de traumas, treinamentos de respiração, projeção de futuro e interpretação de sonhos. Tamara também aprendeu habilidades práticas essenciais, como costurar a própria pele e manusear uma arma para se defender de ursos. Além disso, ela adaptou seu veleiro de aço de 10 metros para as condições extremas do Ártico, estocando comida suficiente para um ano.
Desafios e Reflexões
Durante os oito meses no gelo, Tamara enfrentou temperaturas que variavam de -20 a -40 graus e lidou com o fenômeno de Raynaud, que causa hipersensibilidade ao frio nas extremidades do corpo. Em uma ocasião, ela quase morreu ao cair na água congelante, mas o instinto de sobrevivência falou mais alto, e ela conseguiu se salvar.
Isolada do mundo, Tamara descobriu que a solidão pode ser uma fonte de felicidade. “Descobri que a solidão pode ser muito feliz. Que os medos mais difíceis de lidar são os dos outros, que tornam nossa mochila de medos muito mais pesada do que precisaria ser. Aprendi a confiar e treinar meus instintos”, refletiu. Ela também encontrou tempo para a leitura, estudando obras como “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa e livros de Hermann Hesse, Annie Ernaux e Socorro Acioli.
Desafios Sociais
Além dos desafios naturais, Tamara enfrentou o ceticismo e o preconceito por ser mulher em um ambiente predominantemente masculino. “As pessoas me diziam que eu ia morrer, que mulher é fraca demais, que não ia conseguir me salvar se tivesse algum problema técnico, que um homem poderia quebrar o gelo com o barco e vir me estuprar”, relembra Tamara. Mesmo assim, ela provou sua capacidade, navegando 2.500 milhas com seu barco e 8.000 milhas com outro, ainda mais precário.

Tamara Klink
Conclusão
Após sua experiência transformadora, Tamara não tem pressa de voltar para casa na França ou para o Brasil. Ela continua ajustando seu barco e compartilhando suas reflexões com pescadores locais. Para Tamara, a navegação é mais do que uma profissão; é um modo de vida que desafia as expectativas e os estereótipos.
“Se por acaso minha vida acabasse de repente, por um motivo qualquer, estaria feliz com o que vivi. Nenhum arrependimento, nenhuma falta. Sou uma pessoa muito privilegiada por muitos motivos, e um dos maiores é poder construir e realizar um sonho. Muitas pessoas no Brasil não podem nem sonhar porque a simples sobrevivência já é dura demais.”
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