Discurso de abertura
Na ONU, Lula condena intervenções unilaterais e defende soberania do Brasil
Por Julia Fernandes Fraga - Em 23/09/2025 às 12:09 PM

Presidente Lula abriu a 80ª Assembleia da ONU, em Nova York. Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, nesta terça-feira (23), o Debate Geral da 80ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, com um discurso marcado por críticas às sanções unilaterais dos Estados Unidos e alertas sobre o avanço do autoritarismo no cenário internacional.

Delegação brasileira na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Fotos: Reprodução/Instagram/Camilo Santana
Integram a comitiva brasileira o ministro da Educação, Camilo Santana, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; a ministra das Mulheres, Márcia Lopes; o ministro das Cidades, Jader Filho; e a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), também está na delegação.
Crise global
Em sua fala, Lula afirmou que o multilateralismo vive uma crise diante da proliferação de intervenções unilaterais e sanções arbitrárias.
“O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. A autoridade desta organização [ONU] está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder, atentados à soberania, sanções arbitrárias. E intervenções unilaterais estão se tornando regra”, reassaltou.
O presidente associou esse processo ao enfraquecimento da democracia global. “O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades. Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas”, ponderou o presidente.
Defesa da democracia brasileira
Lula também destacou que o Brasil enfrentou ataques de forças antidemocráticas e resistiu para preservar seu regime democrático.
“Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência. Exaltam a ignorância. Atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa. Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais”, defendeu.
O presidente também condenou agressões à independência do Judiciário brasileiro e reiterou que não há justificativa para ações arbitrárias contra o país.
“A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade“, enfatizou Lula.
Recado contra autocratas
A responsabilização do ex-presidente Jair Bolsonaro por atentar contra o Estado Democrático de Direito foi citado por Lula como “marco histórico”. Ele apontou que a condenação passou antes por “um processo minucioso, [com] amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”.

Brasil tem a tradição de fazer o discurso de abertura do evento
O presidente brasileiro concluiu o discurso reforçando a soberania e a democracia nacionais.
“Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos autocratas e àqueles que os apoiam. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela. Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral. Seu vigor pressupõe a redução das desigualdades, a garantia dos direitos mais elementares”.
Outras pautas
Em outros momentos de sua fala, Lula afirmou que a pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo e que “a democracia falha quando as mulheres ganham menos que os homens ou morrem pelas mãos de parceiros e familiares. [Que ela] perde quando fecha suas portas e culpa migrantes pelas mazelas do mundo”.
O presidente celebrou a saída do Brasil do mapa da fome em 2025, e lembrou que “a única guerra em que todos podem sair vencedores é a travada contra a fome e a pobreza”.
Outro ponto de destaque foi a regulação das big techs. O chefe de Estado do Brasil defendeu que “regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual”.
Lula exaltou, por último, a sanção da legislação brasileira de proteção a crianças no ambiente digital; os projetos para fomentar a concorrência e datacenters sustentáveis; e a importância de uma governança multilateral “para mitigar os riscos da inteligência artificial”.
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