O professor e sociólogo Élcio Batista, pré-candidato do PSB à Prefeitura de Fortaleza, participou do painel “O progresso é a catástrofe?”, tendo como debatedor o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Artur Bruno, durante o Ceará Global – O futuro em 360°. Realizado nesta quarta-feira (25), o evento virtual destacou que o desenvolvimento tem trazido diversos problemas para o mundo, em especial as desigualdades.

Élcio Batista defende o equilíbrio entre pessoas, natureza e economia     Foto: Portal IN News

Ele ressaltou que as revoluções científicas têm libertado o homem da natureza, subjugando todo o processo de produção, a partir do processo de industrialização. Usando a tecnologia para produzir foram dos ciclos naturais, que são as estações do ano, levando até a água a lugares onde ela é escassa.

“Veja o caso do Ceará. Estamos nos transformando num dos grandes produtores de frutas, flores e já estamos produzindo trigo aqui, por conta da tecnologia, da ciência. O homem, com a filosofia do progresso, se liberta da natureza, subjugando-a aos seus próprios interesses”, explicou.

Sobre a crise ambiental existente hoje, que provocaria as catástrofes naturais, leva a um dilema se com todas essas ações, poderá destruir o ambiente natural, que pode levar ao desaparecimento do próprio homem. Mas ressaltou que há um desenvolvimento de diversos valores na sociedade.

“Temos saída sim, que está no próprio homem, no conhecimento, na tecnologia, na ciência, mas a partir de uma mudança epistemológica, que é a complexidade. Não devemos tratar mais de forma unidimensional, mas multidimensional. Teremos de reagrupar os conhecimentos, para encontrarmos uma saída”, afirmou Élcio.

Artur Bruno ressaltou que, atualmente, a sustentabilidade está em alta no mundo inteiro, principalmente após a ONU lançar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, no Ceará, não seria diferente. O governador Camilo Santana criou o Selo Verde, que garante redução de quase 60% no ICMS, de empresas que trabalham com reciclagem, além de estimular o uso de energias renováveis.

“Os ODS apontam para 2030, quando deveríamos atingir esses 17 objetivos. Isso significaria uma humanidade muito mais organizada, integrada e com muito menos desigualdades. A pandemia de Covid-19 lançou luz sobre esses objetivos. Eles podem ser alcançados ou não? Acho que neste momento vivemos uma crise do progresso e outra econômica e de saúde planetária. E estamos num movimento de uma transformação tecnológica em todas as facetas da nossa vida. Prefiro ser um otimista racional, que quer acelerar os ODS, como eliminar a extrema pobreza no mundo”, disse Élcio Batista.

Ele ainda lembrou que este momento é o ideal para reorganizar os sistemas de governança global, regional e mudar os sistemas dentro dos países em direção aos ODS, pois agora é uma necessidade que se coloca por um conjunto de crises que estamos vivendo. O Ceará tem caminhado nesse sentido. “Vejo que este momento é o ideal para cuidar da natureza, da sociedade e da economia. É possível encontrar um equilíbrio entre esses três vetos e o maior aliado nisso é o conhecimento”.

Artur Bruno realizou uma série de questionamentos para o sociólogo

Sobre a organização e o equilíbrio fiscal do Ceará, Élcio foi enfático. “O Ceará, nos últimos 30 anos, como uma grande referência em termos de questões fiscais, utilizando não só a LRF, mas um compromisso de toda a classe política, de que é fundamental manter a boa saúde fiscal do Estado, para que a gente tenha condições de fazer os investimentos necessários nas áreas de saúde, educação, infraestrutura, segurança. Nenhum estado do Brasil tem um Cinturão Digital como a gente tem, que é altamente necessário para o Século XXI e o momento que estamos vivendo. Isso é mais sustentabilidade”, salientou.

E sobre a atração de investimentos, hoje o Ceará tem mão de obra qualificada, fontes de energias renováveis e alta tecnologia, o sociólogo foi conciso. “Acho que se a gente focar na preservação da natureza, mas não de forma estática, mas aliada em investimentos no conhecimento, focar em infraestrutura hídrica, rodovias, malha ferroviária e, ao mesmo tempo, ter um classe empresarial comprometida com a inovação, investimento em tecnologia, desenvolvimento de um conjunto de ações voltadas para que a gente possa se transformar numa grande plataforma de exportação e importação, e de desenvolvimento de produtos da indústria 4.0, o Ceará será uma referência para o mundo e atrairá investimentos. Isso é fundamental e está presente do Ceará 2050”, destacou Batista.

Disse que não é correto combater as mudanças climáticas, mas sim o aquecimento global, que é a causa. No Ceará, lembrou que foi realizado um programa de convivência com a seca, por meio de investimentos em tecnologia, com sucesso. “A questão do aquecimento global é do nosso tempo, só que não é impossível acabar com ele. Mas é possível conviver com ele, com a adoção de medidas adequadas”, disse.

Artur Bruno e Élcio Batista conversaram sobre temas que envolvem o meio ambiente, a economia e a sociedade

Sobre o turismo, que é sustentável, gera muitos empregos, o Ceará está numa posição geográfica com um clima agradável o ano inteiro e possui um litoral com mais de 550 quilômetros de extensão, é favorável para o desenvolvimento. Além disso, o governador Camilo criou o Zoneamento Ecológico Econômico do Litoral, definindo as áreas onde deve haver investimentos e onde deve haver a preservação. Questionado se o ZEEC pode ser um instrumento para aumentar os investimentos turísticos, Élcio sinalizou positivamente.

“Não tenho dúvida nenhuma em relação ao ZEEC ser o melhor instrumento para desenvolver o turismo do Estado e aproveitar os nossos diferenciais, que é a vida comunitária, as dunas, as características do nosso litoral. Se não formos capazes de utilizar bem o nosso litoral, aquilo que pode durar 100, 200, 500 anos de exploração sustentável, pode acabar no curto prazo. É preciso conservar o meio ambiente para valorizar os ativos. O Ceará, por conta do kitesurfe, tem recuperado uma quantidade enorme de praias que estavam semiabandonadas e está trazendo turistas cada vez mais comprometidos com o meio ambiente, em ter um espaço em que a economia, sociedade e natureza se equilibram”.

E a expansão das áreas verdes na capital cearense, que tem sido realizada pela Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Ceará, foi aplaudida por ele. “Crescer é uma visão de curto prazo. Se desenvolver é uma visão de longo prazo. A cidade pensada no curto prazo é cara, insustentável, desigual e violenta. A cidade de longo prazo é pacífica, produz muito mais equidade, mais bem estar, é mais saudável e uma cidade capaz de integrar mais as pessoas. O caminho é esse. Não podemos retroceder, precisamos avançar e dar mais velocidade no processo. É preciso fazer o futuro chegar mais rápido. Esse é o nosso compromisso e deve ser o do cidadão, do setor público e do setor privado”, completou Élcio Batista.